sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Mídia_Carreira&Negócios


O amanhã é agora

Colégios orientam seus alunos para a criação de uma atitude empreendedora ainda no ensino médio

Inúmeras matérias publicadas pela Carreira&negócios a respeito do tema empreendedorismo mostraram que um critério é unânime entre especialistas no momento de definir as características intrínsecas ao empresário bem-sucedido: o apoio da família e da escola na formação do caráter empreendedor. Muitas pessoas que resolveram abrir o próprio negócio ressaltam que a formação escolar foi a base para uma escolha acertada na vida profissional.

Diante desta realidade, muitos colégios criam projetos com o objetivo de despertar a atitude empreendedora em seus alunos. Um método muito comum hoje em dia é a criação de micro-empresas que ajudam, na prática, os adolescentes a entenderem como funciona a abertura de uma empresa, como fez o colégio paulistano São Luís.

Ele adotou o Programa Miniempresa, voltado para alunos de 15 e 16 anos da 2º série do Ensino Médio, com o objetivo de ensinar os jovens a entender a economia de mercado, construir sua própria empresa e vender produtos e ações. Do começo da iniciativa, em 2008, até agora, foram desenvolvidas duas empresas, uma na confecção de cuecas personalizadas e outra, na de sacolas ecologicamente corretas.

O projeto, que é desenvolvido em 15 semanas dentro do próprio colégio, em jornadas semanais com duração de três horas e meia, funciona como uma empresa real, com presidente, diretores de marketing, recursos humanos, finanças e produção, além dos funcionários. Ele é desenvolvido em parâmetros concretos, com tomadas de decisões, a exemplo de votação para cargos eletivos, advertências, demissões, horas extras, escolha e quantidade do produto, marketing de vendas e prestação de contas.

O primeiro passo dos alunos-empresários é a compra de ações da empresa, onde é preciso angariar fundos e conquistar aliados. Depois, eles decidem qual será a área de atuação do negócio e elegem o presidente e os diretores que comandarão o negócio, o que os obriga a aprender de tudo um pouco. "O projeto surgiu da necessidade de despertar no aluno o espírito empreendedor, ainda na escola.

Um despertar que não fosse apenas por uma ação educativa da prática em economia e negócios, mas que estabelecesse uma postura empreendedora na vida", destaca o coordenador do projeto do Colégio São Luís, Marco Antônio Dias. Desta forma, os estudantes aprendem conceitos de livre iniciativa, mercado, comercialização e produção. Dias conta que há o acompanhamento de quatro profissionais voluntários das áreas de marketing, finanças, recursos humanos e produção da consultoria PriceWaterhouseCoopers.

"Com a miniempresa, o estudante trabalha em equipe e exercita as relações estabelecidas com os demais participantes. A escolha por alunos do 2º ano é estratégica, pois eles estão mais abertos a novas propostas", relata Dias. O colégio também tem várias outras atividades que estimulam a liderança e o empreendedorismo, como simulações de programas das Nações Unidas e encontros de lideranças de projetos como reciclagem.

Apoio incondicional

O programa realizado no Colégio São Luís foi elaborado pela Junior Achievement, instituição sem fins lucrativos especializada em aplicar a mini-empresa em escolas da rede pública, que possuem maior dificuldade de acesso às oportunidades. Ela atende, em média, 110 escolas por ano. Do total, 5% são particulares. De acordo com a diretora executiva da instituição, Liliana Magon de Almeida, para funcionar, a parceria precisa de, pelo menos, quatro canais: empresas privadas, escolas, voluntários e a própria ONG para unir esses elos.

A empresa privada financia o programa e estimula seus colaboradores a atuarem como consultores voluntários, as escolas assumem esse compromisso social e permitem que seus alunos participem, os voluntários atuam em sala de aula e disponibilizam seu tempo para passar todo o seu conhecimento e a Junior Achievement desenvolve o material didático, treina os voluntários e faz um acompanhamento no desenrolar do programa.

"Nós auxiliamos as instituições unindo as empresas interessadas em patrocinar os programas com as escolas que querem recebê-los. As instituições de ensino não fazem investimento financeiro no projeto, isso fica a cargo das empresas parceiras. As escolas permitem que o programa aconteça, disponibilizando o espaço para as aulas", relata. Liliana acredita que o fato de alguns colégios particulares aumentarem sua participação em campanhas na linha do empreendedorismo tem a ver com a percepção de que jovens mais atuan tes e conscientes beneficiam a sociedade como um todo.

Além disso, é mais uma forma de prepará-los para o cada vez mais competitivo mercado de trabalho. Para ela, nada melhor que a experiência de administrar uma miniempresa de verdade ainda na escola. "É importante despertar esse espírito empreendedor no jovem. Pessoas empreendedoras estão, pelo menos, um passo à frente das outras", acredita. A expectativa da instituição para esse ano é atender, no Estado de São Paulo, 30 mil alunos e poder expandir a atuação para mais cidades do interior e do litoral paulista.

Caráter social

Outro colégio que recebeu o apoio da Junior Achievement para implantar a miniempresa foi o Colégio Adventista, unidade do Campo Limpo, bairro da zona sul da capital paulista. O projeto, direcionado aos alunos do 3º ano do Ensino Médio, teve duração de três meses, mas o tema empreendedorismo foi trabalhado durante todo o ano, já que foi escolhido como projeto para 2009.

É o que relata a coordenadora pedagógica do Colégio Adventista Campo Limpo, Nadir Panegacci. Os alunos cumpriram uma carga de cinco horas semanais para reuniões com os diretores de cada setor da empresa e aproximadamente duas horas semanais para a confecção do produto, neste caso, um abajur com utilização de coador de café reciclado. Como empresa real, da mesma forma como aconteceu no Colégio São Luís, a miniempresa tinha ações que deveriam ser vendidas pelos alunos.

Cada funcionário ficou responsável pela venda de quatro ações. À medida que elas eram vendidas, a renda era destinada à compra de matériaprima, dando início, assim, à fabricação das primeiras luminárias, produto escolhido em votação pelos colaboradores. Os alunos cumpriram uma jornada de trabalho de oito horas semanais e puderam fazer, inclusive, horas extras, dependendo da quantidade de produção de luminárias. No período, também foram realizadas reuniões com os diretores de departamento para resolver possíveis problemas existentes em cada setor. O diretor de finanças foi responsável por cuidar das despesas, lucros, salários e horas extras.

Em uma semana, foram produzidas vinte luminárias que foram oferecidas aos pais dos estudantes. "Os miniempresários tiveram muito sucesso nas primeiras vendas, obtendo renda para produzir as próximas peças", comemora Nadir. Ela ressalta que os alunos que participaram tiveram uma vasta noção das responsabilidades empresariais em aspectos imprescindíveis para o mercado de trabalho como liderança, relacionamento intrapessoal, pontualidade, determinação, coragem para correr riscos, perseverança, proatividade e autoconfiança.

"A iniciativa proporciona uma visão clara do mundo dos negócios. A experiência é determinante para a escolha da carreira que cada jovem pretende seguir", sentencia. Além dos benefícios óbvios, ao final da jornada, os alunos recebem um certificado que poderá ser acrescido ao currículo pessoal com possibilidades e oportunidades de emprego nas empresas parceiras tanto na Júnior Achievement como na Petrobras, Unimed, Volkswagen, Caixa Econômica Federal, Johnson & Johnson, Unibanco, Ipiranga, entre outras.

A coordenadora relatou, ainda, que o término do projeto foi concretizado com uma ação social onde foram entregues produtos alimentícios e de higiene para uma entidade sem fins lucrativos que atende crianças portadoras de câncer e transplantadas ou à espera de transplante de fígado. A doação foi possível graças ao lucro da miniempresa. "É interessante ressaltar que o projeto foi implantado já nos moldes empresariais contemporâneos, em que a responsabilidade social é um fator indispensável. Mais que uma estratégia de marketing, esta ação faz parte da filosofia da educação adventista, por se tratar de educação cristã", conclui Nadir

Fonte: Matéria da Revista Carreira & Negócios _ Edição: Agosto/2009

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