segunda-feira, 24 de agosto de 2009

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Questões éticas

"Em um mesmo órgão de imprensa podem conviver duas éticas", diz Celso Nucci. "Uma , irrepreensível, usada para pautar a conduta dos jornalistas na cobertura do chamado jornalismo de informação nas áreas políticas, econômicas, de comportamento, etc. E outra ética, de segunda linha, que descuida da qualidade da informação e desemboca até na aceitação de favores pelos jornalistas que trabalham nas áreas de serviço: moda, negócios, turismo, culinária, decoração, espetáculos, beleza, gastronomia, compras, prestação de serviços e variedades."

O Manual Nacional de Assessoria de Imprensa da Fenaj admite a existência de um problema ético ainda mais grave: o fato de jornalistas trabalharem em redações de veículos de comunicação e em assessoria de imprensa, gerando um espúrio tráfico de influências. Essa situação é condenada pelo artigo 10, letra e, do Código de Ética dos Jornalistas: "O jornalista não pode exercer cobertura jornalística pelo órgão em que trabalha, em instituições públicas e privadas onde seja funcionário, assessor ou empregado." No entanto, na prática, o Código de Ética é desconhecido pela maioria dos jornalistas e não tem força coercitiva, o que dificulta o combate a essa prática antiética. O Novo Manual de Redação da Folha de S. Paulo também restringe esse tipo de prática ao impor o regime de dedicação exclusiva aos jornalistas contratados. Exceções, só para atividades acadêmicas e colaborações jornalísticas, "desde que previamente autorizadas pela Diretoria de Redação". O único problema é que nem sempre o salário pago pelo jornal é compatível com a dedicação exclusiva, principalmente no caso de jornalistas iniciantes e de nível intermediário.

A possibilidade de manipulação das informações constitui outro ponto de desconfiança dos jornalistas em relação às assessorias. Embora não generalize, Thales Guaracy, um dos editores de Geral de Veja, acredita que a maioria dos assessores funciona como um filtro de seus clientes. E, principalmente em momentos de crise, tenta usar as informações segundo seus interesses, sem se preocupar em realmente esclarecer a opinião pública. Nair Keiko Suzuki, coordenadora de área do jornal Gazeta Mercantil, também constata um certo filtro nesse trabalho, mas não por culpa dos assessores e sim dos empresários que os contratam. Por esse motivo, considera que para conseguir um grande avanço nas relações com os jornalistas as assessorias de imprensa precisam convencer seus clientes de que devem ser abertos e transparentes em todas as situações.

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