quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Análise_Aparência


As Aparências Enganam

Observamos o mundo através dos sentidos e fazemos julgamentos que nem sempre correspondem à realidade


Quando penso em quantas vezes fui enganado pelas aparências, lembro de uma viagem que fiz pelo deserto da África. Estava em um caminhão especial para enfrentar as areias, e quem o conduzia era um israelense muito simpático chamado Avi. Em uma parada, tirava algumas fotos, quando o guia chamou minha atenção:

- Olhe lá um tuaregue.

- O quê? - perguntei, pensando que não estava entendendo seu inglês.

- Tuaregue, um habitante do deserto. É um povo nômade que viaja pelo deserto o tempo todo, apesar de que alguns já se transformaram em fazendeiros e se estabeleceram em regiões onde chove o suficiente. Mas eles gostam mesmo é de andar por aí...

- OK, Avi, eu sei sobre os tuaregues, mas você pode me dizer onde é que ele está, afinal de contas?

Meu amigo, cujos olhos estão acostumados às imagens enganosas do deserto, fez bastante esforço para que eu conseguisse finalmente enxergar um homem que puxava seu camelo preguiçosamente. Então, eu percebi o porquê de minha dificuldade em vê-lo: ele era da mesma cor ocre do camelo, que era da mesma cor da duna de areia em que estava, que, por sua vez, era da mesma cor do resto do deserto.

- Incrível, nem parece que tem alguém...

- Pois é, meu caro, no deserto nem tudo o que é parece ser, e nem tudo o que parece ser realmente é. Você vê miragens, que são coisas que não existem, e não vê os habitantes das areias, que são reais e estão ali na sua frente. Aliás, no deserto é como na vida, as aparências costumam enganar.

Realmente a vida é assim, enganosa em suas aparências. O filósofo grego Platão dizia que existem dois mundos interconectados: o das formas e o dos sentidos. No primeiro vive a verdade, a real essência das coisas, e no segundo vive a ilusão, pois este mundo é dependente da observação que fazemos do outro através de nossos sentidos - que não são confiáveis.

Platão poderia explicar o título deste artigo da seguinte forma: vemos o mundo através do que ele aparenta ser, e nem sempre as aparências correspondem à realidade, principalmente quando não prestamos a devida atenção aos fatos.

Ilusão pela imagem O que eu presenciei no deserto foi um exemplo de um fenômeno comum na natureza: o mimetismo. A palavra grega mimetós significa imitação, e mimetismo é um fenômeno em que um animal se parece com outro, ou se confunde com o meio em que vive, com a finalidade de levar alguma vantagem nessa simulação.

Há dois tipos: o mimetismo batesiano e o mimetismo milleriano. O primeiro é uma homenagem ao cientista inglês H. W. Bates (1825-1892); e o segundo, ao naturalista Fritz Muller (1822-1887), que nasceu na Alemanha mas passou a maior parte de sua vida em Blumenau, Santa Catarina, onde morreu, e de onde se correspondia com seus colegas europeus, principalmente Charles Darwin.

O mimetismo batesiano é o do animal que não quer ser visto. Ele ilude o observador, confundindo-se com o ambiente onde está, como o camaleão que assume a cor do local; ou o linguado, que se cobre com uma camada de areia no fundo do mar; ou ainda o bicho-pau, frágil inseto que se parece com um graveto. Foi também o caso do habitante do deserto.

Já o milleriano é o mimetismo do animal que quer parecer mais do que é. Trata-se de um exibicionista, que tenta impressionar e assustar o observador, como a borboleta que, de asas abertas, parece-se com uma coruja, o que afasta o passarinho que poderia comê-la; ou o sapo que infla seu papo, ficando muito maior do que de fato é, o que lhe dá um aspecto ameaçador.
As lições da natureza muitas vezes nos ajudam a entender as pessoas, pois há muitas, senão todas, que também fazem seus mimetismos. Enquanto algumas tentam não parecer o que realmente são, outras tentam parecer o que não podem ser. Tipos diferentes de mimetismo humano, que podem estar combinados dependendo do personagem.

O mundo inteiro é mimético, inclusive o mundo do dia-a-dia, que parece ser totalmente conhecido. A verdade é que estamos apenas acostumados a ele, então paramos de nos preocupar em observar e analisá-lo.

Quando isso acontece, passamos a ser enganados pelos sentidos. Num primeiro momento, só percebemos as aparências, e estas, com freqüência, nos enganam, e como...


Fonte: Revista Vida Simples

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