segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Emprego_Networking

Emprego_O Primeiro

Emprego_O Estágio

Emprego_A Entrevista

Análise_Um Monge


UM MONGE FALA DE ESPIRITUALIDADE E CARREIRA

O BENEDITINO ALEMÃO ANSELM GRÜN tem como uma de suas missões divulgar as palavras de são Bento. Ele percebeu que os ensinamentos do santo, quando aplicados aos líderes das empresas, traziam alívio para os que se sentiam massacrados pela rotina. Ele próprio tem uma experiência empresarial. Grün é gestor de finanças do Mosteiro de Münsterschwarch, na Alemanha, onde coordena e direciona as atividades de 280 colaboradores e testa seus ensinamentos. Hoje, o monge dá palestras em grandes corporações, como a montadora Mercedez Benz, e escreve sobre a espiritualidade como uma ponte entre a satisfação na vida profissional e pessoal. Ele conversou com Bons Fluidos e levantou tópicos de como é possível fazer as pazes com o trabalho.

Satisfação profissional tem a ver com... AutoconhecimentoPense: você é seu principal recurso de trabalho. Por isso, precisa conhecer seus talentos, facilidades, fraquezas, aptidões e dificuldades. Dedicar-se ao que lhe dá prazer, seguir suas crenças e seus valores.

Estar de bem com você

Quem está de mal consigo mesmo também pode ter o rendimento profissional comprometido. Isso se traduz por mau humor excessivo, rispidez nas palavras e dificuldade em se relacionar com os parceiros de trabalho. “Quem não lida com as próprias feridas normalmente fere os outros”, atesta o monge. Quando se entra em acordo consigo – e isso pode ser feito por meio de terapia –, fica mais fácil estabelecer um ambiente profissional Satisfação profissional tem a ver com... equilibrado e se vincular de maneira harmoniosa com os colegas de trabalho. É bom para todos.

Saber dosar a energia

Confunde-se o ato de liderar com o simples fato de levantar poeira, criar polêmicas e mudar o que não é preciso. Trata-se, aqui, de não desperdiçar energia e conduzir seus atos para o que realmente é necessário. Se você só consegue se sentir útil e participativo no trabalho quando faz barulho, deve se reavaliar. E lembre: não se pode mudar com base na turbulência, e sim na calma.

Ter foco no que faz

Não perca tempo e disposição pensando em como os outros lhe julgam ou prestando atenção em intrigas e fofocas. “Cerca de 30 a 40% da energia no trabalho é gasta com atitudes mesquinhas”, contabiliza Anselm Grün.

Estabelecer um clima de confiança

O bom chefe cria um ambiente de segurança, no qual as pessoas não têm medo de errar e sabem que podem contar com a equipe quando há problemas e mesmo quando falham. Colegas e chefes que oferecem apoio e companheirismo estimulam um ambiente de criatividade e renovam o ânimo mesmo em situações adversas.

Ter mais tempo para você

Como você se sente ao ir para o trabalho?
Estimulado, inseguro ou desgastado? Se a resposta for a última opção, você deve ter a clareza de quais são suas fontes de energia na vida e ativá-las. Isso pode ser feito da seguinte maneira: avalie o que lhe traz o sentimento de renovação na esfera pessoal. Pode ser a prática de um esporte ou de meditação, o convívio com a família, um encontro com os amigos. Saiba que atitudes como essas, mesmo que aparentemente simples, têm o poder de multiplicar a energia e fazê-la acreditar mais em você mes- >> mo. Está se sentindo esgotado? Marque um happy hour com os amigos, convide alguém querido para jantar ou saia para caminhar. O poder disso é revigorante.

A maneira como você fala

Já reparou na maneira como você fala com os outros? Às vezes, sem perceber, usamos um tom acusador ou desafiador, quando na verdade queremos acolher, nos aproximar ou até mesmo entender. Faça uma auto-avaliação de como conversa com o outro (o tom da voz, as palavras utilizadas, o quanto fala, o espaço que dá para o outro retrucar). E verifique se o retorno que costuma receber não está mais vinculado à maneira como você se coloca e não apenas às informações que passou ou pediu.

Saber dosar as emoções

Solidarize-se! Mas não se contagie em demasia com a emoção dos outros. Isso pode atrapalhar a tomada de decisão. Você pode apoiar uma pessoa que está desanimada e ou vir as reclamações de um colega in sa - tisfeito, mas mantenha sua estrutura emocional para não sair da conversa com um sentimento que não é seu, mas que pode roubar seu otimismo e sua vontade de agir.

Vale lembrar: na agenda, pontue os compromissos profi ssionais, mas também o tempo dedicado para você, para a família e para os amigos. Minigarrafa da Corporação de Ofícios, pombinha de porcelana da Rachel Hoshino e porta-clipes e porta-cartões da Espaço Canevah.

Fonte: texto Tatiana Bonumá publicado na revista Bons Fluídos

Análise_Dificuldades


Como lidar com as dificuldades do dia-a-dia Elaboramos um roteiro dos principais problemas enfrentados, seja na empresa em que você está, seja no próprio negócio, e suas possíveis soluções.

SITUAÇÃO 1
Você precisar tocar projetos, mas não tem estrutura para isso ou as habilidades suficientes. O QUE PODE PROVOCAR Sensação de incapacidade. O QUE FAZER Exponha a situação por meio de uma conversa franca com seu chefe. Nem sempre seus superiores estão a par da estrutura – ou dos conhecimentos – que você tem disponível. Se for o caso, negocie um tempo para investir em cursos, leituras, pesquisa e entrevistas com outros profissionais. Avalie seu trabalho de acordo com as possibilidades que lhe são apresentadas e a estrutura com a qual conta. O resultado é coerente com as condições oferecidas. O importante é não confundir a frustração de não atingir a meta com a infelicidade generalizada no trabalho.

SITUAÇÃO 2
Falta tempo para fazer tudo o que precisa. O QUE PODE PROVOCAR Acúmulo de funções e responsabilidades, desorganização pessoal ou da empresa e falta de planejamento. O QUE FAZER Identifique o que está roubando seu tempo e tente eliminar isso da rotina, como reuniões improdutivas, interrupções desnecessárias, telefonemas e respostas a e-mails que não são urgentes. Liste as tarefas essenciais e crie um planejamento diário com o tempo que pretende gastar em cada atividade. Importante: seja realista e considere a possibilidade de imprevistos. Aprenda a delegar funções, adiar o que é possível, dividir o que for necessário e priorizar.

SITUAÇÃO 3
Sentir-se rejeitado no ambiente de trabalho. O QUE PODE PROVOCAR Dificuldade nas relações – com chefe, colegas ou subordinados. O QUE FAZER Se o comportamento de alguém o incomoda, verifique se a ele é assim só com você. Não espere o sorriso e a aprovação dos outros para se sentir à vontade ou criar um ambiente de trabalho saudável. Focalize o estímulo em você mesmo, não se deixe consumir por pensamentos negativos – de ameaça e competitividade – e assuma uma postura ética e amigável com sua equipe. Se o confronto persistir, tenha uma conversa transparente com a pessoa, sem se focar na emoção, e sim na preocupação em manter um clima profissional estimulante e agradável para você e para os outros.

SITUAÇÃO 4
Você se sente sempre desatualizado, com um passo atrás em relação à tecnologia. O QUE PODE PROVOCAR Estresse e impotência. O QUE FAZER Tente não depender apenas de cursos para aprender a lidar com novas tecnologias. Obtenha informações observando os colegas, conversando, pesquisando e arriscando a mexer nos equipamentos.

SITUAÇÃO 5
Sem tempo para a vida pessoal. O QUE PODE PROVOCAR O isolamento e a sensação de que a vida está escorrendo pelas mãos. O QUE FAZER Ser realista em relação ao que é possível fazer. De novo, considere as prioridades. Programar os encontros sociais com a mesma importância que se dá à reunião profissional. Aprender a estabelecer limites e falar “não”, tanto na vida pessoal como na profissional, num tom assertivo e não agressivo. Fonte: Isma-BR (International Stress Management Association).
Os profissionais satisfeitos são também aqueles que sabem administrar bem a carreira. Portaprendedores de papel da Espaço Canevah, pombinha dourada de porcelana da Rachel Hoshino, minigarrafa de vidro da Corporação de Ofícios, caneta, lápis, cadernos e papéis da Papel Craft.

Fonte: texto Tatiana Bonumá publicado na Revista Bons Fluídos

Análise_Horário Comercial


Felicidade em Horário Comercial

Prazer, dedicação, recompensa. Trabalho precisa ser um pouco de tudo isso. Essa relação tem muito a ver com sua postura de vida. Mesmo quando o cenário ao redor não é favorável, algumas escolhas que você faz podem ser a diferença entre estagnar ou crescer. Aqui, psicólogos, especialistas em gestão de pessoas e até um monge beneditino mostram como carreira rima, sim, com realização.

Passamos cada vez mais tempo no trabalho. Mesmo assim, a cada hora surgem mais tarefas, com prazos curtos e exigências complexas. Ops... Não era esse o combinado! Com tanta tecnologia disponível – internet, celular e mais aparatos –, o esperado era economizar tempo e energia. Não foi o que aconteceu. A hora continua tendo 60 minutos, mas a expectativa do que se pode fazer nesse período subiu muito. O resultado é a frustração no fim do dia, quando você desliga o computador com a impressão de que não deu conta do recado. Isso se tornou tão comum que estudos se multiplicam sobre o assunto em busca de uma resposta de como combinar trabalho e satisfação. Uma dessas pesquisas foi feita pela psicóloga mineira Betania Tanure. O estudo, com 1,1 mil executivos brasileiros, mostrou que 84% dos entrevistados afirmam ser infelizes na carreira. A justificativa vem do excesso de competitividade, do alto nível de estresse e, conseqüentemente, do pouco tempo disponível para cuidar do que deveria estar no topo da lista de prioridades: a vida pessoal. Mas, veja só, 16% se declaram felizes. Como conseguiram chegar a esse patamar de equilíbrio entre carreira e vida pessoal?

“Eles desenvolveram um bom grau de autoconhecimento, o que permite identificar o que lhes proporciona prazer. Sabem estabelecer prioridades e dizer não”, enumera Betania.

A psicóloga Ana Maria Rossi, da Isma-BR, uma as sociação que estuda o estresse, também avaliou quais são as características de quem se considera satisfeito. São elas: auto-estima elevada, otimismo e se sentir no controle da própria trajetória. “A felicidade no trabalho está vinculada com conquistas pessoais relacionadas à postura de vida. Quem se sen te por baixo vê os conflitos como ameaças e não como oportunidades para crescer. O otimismo diminui o me do do fracasso e dá coragem de tentar, sem se intimidar frente às adversidades”, explica. Ela cita que pro fissionais felizes são pessoas con fi antes e com autonomia no trabalho.

CONHECIMENTO DO QUE MESMO?

Especializações, MBAs e experiências fora do país podem ser importantes para conseguir emprego, mas nem sempre se vinculam com a felicidade.

Assim como salário, status e poder também não aparecem nas listas com freqüência. A satisfação no trabalho está mais ligada à paz de espírito. Enfim, tem mais relação com a maneira como a gente sente e vive o cotidiano. Faça o seguinte exercício: olhe a seu redor. Como é sua mesa de trabalho: arrumada, bagunçada, colorida? As mudanças – de humor, de atitude – começam por você. Uma idéia é transformar seu espaço em algo mais acolhedor. Vale colocar uma planta, fotos, objetos que têm significado para você. Bobagem? Que nada! Existem empresas nos Estados Unidos que incentivam os funcionários a customizar sua área de trabalho. Daí ela fica com a cara do dono. E isso faz um bem danado para todo mundo.

Um bom ambiente de trabalho tem a ver com uma atitude mais positiva diante da rotina. Isso é, inclusive, tema de palestras nas empresas, que buscam inspiração nas palavras de atletas, gurus e líderes espirituais. O monge beneditino alemão Anselm Grün é um deles. Ele viaja o mundo todo e influencia executivos a viverem melhor nas empresas. Mas num aspecto ele é categórico: “A felicidade profissional não se desvincula do autoconhecimento, um grande desafio para o homem contemporâneo”. Mas por que esse “se conhecer” se tornou uma tarefa árdua? Em primeiro lugar, não é um conhecimento que se ensina num curso de especialização ou na escola. Também não é algo que passe de pai para filho.

O economista Antonio Brito, outro estudioso da felicidade no trabalho, desenvolve uma tese de mestrado sobre o tema. Ele dá a dimensão histórica para o assunto. “Estamos em uma era de individualismo, mas as pessoas não se perguntam o que querem de verdade, quais são os aspectos que lhes trazem satisfação e quais são seus projetos”, alerta. Aqui outra expressão valiosa é: projeto. “A idéia é entender onde você está, aonde quer chegar e quais são os caminhos para atingir o ponto almejado”, ilustra. Para responder a essas questões, é preciso se perceber e capturar essas informações dentro de si. Isso foi proposto, por exemplo, aos funcionários da Johnson & Johnson. No ano passado, a empresa incentivou seus 700 funcionários a contar o que fazem para cuidar de si e distribuiu também um CD com perguntas e reflexões para ajudá-los a traçar os parâmetros de vida e, conseqüentemente, a trajetória profissional que cada um deseja. “Você só consegue se sentir realizado, ajudar a si mesmo e a empresa, se estiver alinhado com seu propósito de vida. E isso significa também que seu trabalho tem que estar de acordo com seu projeto, deve fazer um sentido mais amplo para você”, acredita Juliana Nunes, que atua na área de recursos humanos da empresa.

Estabelecer o tal propósito pode levar algum tempo e não acontece espontaneamente. Você tem que promover momentos de intimidade para procurar as respostas. Conquistado esse passo, é lidar com as questões do dia-a-dia com bom humor e um tanto de sabedoria.

A parte que cabe a cada um

As companhias nunca estiveram tão preocupadas com o bem-estar de seus empregados. Isso porque quem está de mal rende menos e falta mais. Há quem ofereça aulas de ioga, horário de trabalho fl exível etc. A empresa americana Google, por exemplo, foi eleita recentemente como a melhor companhia para trabalhar pela revista Fortune. Seus funcionários têm, entre outros benefícios, 20% do tempo, durante o expediente, para investir em projetos pessoais. Outro exemplo é o da fábrica Masa da Amazônia, em Manaus, que produz componentes plásticos. A indústria foi eleita por dois anos a melhor empresa para se trabalhar por um guia especial das revistas Você S/A e Exame. De acordo com Kellenn Osmidio Albuquerque, da área de gestão de pessoas, um dos programas que favoreceram essa conquista foi o Projeto Criatividade, proposto para incentivar as idéias que melhoram a vida na empresa. As melhores sugestões são premiadas e colocadas em prática. Ao ver uma idéia sua sendo aplicada, o funcionário se sente reconhecido e fazendo parte do sucesso.

Fonte: Texto Tatiana Bonumá_ publicado na Revista Bons Fluídos

Aula 31 de Agosto

Sala 304

Trbalho em Grupo - Seminário de Resultados _ 1º GQ

Apresentação dia 23 de setembro
dia 28 de setembro

Prova Teórica dia 30 de setembro


Distribuição Textos Análises_Falicidade Em Horário Comercial
Como Lidar com as Dificuldades
Um Monge Fala de Espiritualidade e Carreira

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Vídeo_Inteligência

O Caso Brasileiro_5

Fontes de Pesquisas
Fonte: Jorge Antonio Menna Duarte
Professor do Centro Universitário de Brasília (UniCeub)
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ABRAMO, C. A regra do jogo. São Paulo: Companhia das Letras,1988.
ANDRADE, C. T. de S. Curso de relações públicas: relações com os diferentes públicos. São Paulo: Atlas, 1988.
BELTRÃO, L. Iniciação à filosofia do jornalismo. 2.ed. São Paulo: Editora da USP, 1992.
BUENO, W. da C. Novos contornos da comunicação empresarial brasileira. Comunicação & Sociedade, São Bernardo do Campo, Umesp, v. 16, p. 71-99, 1989.
_____. Comunicação e interatividade: a comunicação empresarial se prepara para enfrentar os desafios do século XXI. Comtexto Comunicação e Pesquisa/Unimed Amparo, 1995.
CAMPOI, E. Jornalismo científico e assessoria de imprensa. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE JORNALISMO CIENTÍFICO (4:1984: São Paulo). São Paulo: Associação. Brasileira de Jornalismo Científico/Associação Iberoamericana de Periodismo Científico, 1984. p. 113-118. Memória.
CHAPARRO, M. C. A notícia (bem) tratada na fonte: novo conceito para uma prática de assessoria de imprensa. São Paulo: USP/ECA, 1987. Dissertação Mestrado.
_____. Raízes e atalhos de uma história que apenas começa. In: ABERJE, 20 anos da comunicação empresarial no Brasil. São Paulo: Aberje, 1987. p.12.
_____. O uso da técnica jornalística sem os limites da ética. Cadernos de Jornalismo e Editoração, São Paulo: n. 10 v. 24, p. 39-46, 1989.
_____. Um modelo jornalístico de divulgação da ciência. Revista Brasileira de Comunicação, São Paulo: v. 62/63, p.129-134, 1990.
_____. Jornalismo na fonte. In: Jornalismo brasileiro: no caminho das transformações. (Org. Dines A; Malin M.) Brasília: Banco do Brasil, 1996.
CHEIDA, M. Concepções sobre o fundamento ético da verdade factual no jornal e na assessoria de imprensa. Comunicarte, Campinas, v. 10 n. 18, p. 103-118, 1993.
CORRADO, F. M. A força da comunicação: quem não se comunica... São Paulo: McGraw-Hill, 1994.
DESCHEPPER, J. Saber comunicar com jornalistas da imprensa, rádio e televisão. Lisboa: Cetop, 1992.
DUARTE, J. A. M. O papel do jornalista na comunicação empresarial: o caso Embrapa. São Bernardo do Campo: Umesp, 1996. Dissertação Mestrado.
_____. Pesquisa & Imprensa: orientações para o bom relacionamento. 5.ed. Brasília: Embrapa, 1999.
ERBOLATO, M. L. Informações científicas no noticiário dos jornais. Comunicarte, Campinas, v. 1, p. 119-127, 1982.
_____. Assessorias de imprensa: novo mercado de trabalho. Comunicarte, Campinas, v. 11/12, p.111-132, 1988.
FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas). Fonte: revista das assessorias de comunicação e imprensa. Brasília: Fenaj, out. 1997.
GASPAR, A. Relações Públicas: esclarecimentos, aspectos jurídicos e suas atividades específicas. In: CATÁLOGO BRASILEIRO DE PROFISSIONAIS DE RELAÇÕES PÚBLICAS, São Paulo, n. 6, 1984.
GOODWIN, H. E. Procura-se ética no jornalismo. Rio de Janeiro: Nórdica, 1993.
_____. Em defesa da assessoria de imprensa. [s.l.: s.n.], 1992.92. p. 13.
JORNALISMO alternativo. Revista Imprensa, São Paulo: set. 1987. p.62-64.
KUCINSKI, B. O jornalismo no Brasil é parte de um sistema de informação massificado e promíscuo. Revista Brasileira de Comunicação, São Paulo: v. 55, p. 7-21, 1986. Entrevista.
KUNSCH, M. M. K. Planejamento de relações públicas na comunicação integrada. São Paulo: Summus, 1986.
LOPES, B. O que é assessoria de imprensa. São Paulo: Brasiliense, 1994a.
_____. Assessoria de imprensa. Revista de Comunicação, São Paulo, n. 37, 1994b.
_____. A realidade do ensino de Assessoria de Imprensa nos cursos de Comunicação. In: FENAJ (Federação Nacional dos Jornalistas). Fonte: Revista das Assessorias de Comunicação e Imprensa. Brasília: Fenaj, out. 1997.
LIMA, G. M. Releasemania: uma contribuição para o estudo do press-release no Brasil. 2. ed. São Paulo: Summus, 1985.
LUDUVIG, M. M. As transformações do jornalismo empresarial na década de 80 aos dias atuais. São Paulo: USP/ECA, 1994. Dissertação Mestrado.
MARCONDES FILHO, C. O capital da notícia: jornalismo como produção social da segunda natureza. São Paulo: Ática, 1989.
_____. Jornalismo fin-de-siècle. São Paulo: Página Aberta, 1993.
MARINHO, M. J. M. da C. Profissionalização e credenciamento: a política das profissões. Rio de Janeiro: Senai/DN/DNPEA, 1986.
MEDINA, Cremilda. Profissão jornalista: responsabilidade social. Rio de Janeiro: Forense-Universitária, 1982.
MELO, J. M. A opinião no jornalismo brasileiro. Petrópolis: Vozes, 1985.
MOREIRA, R. Assessoria de imprensa, mercado em expansão? In: MEDINA, C. (Org.). O jornalismo na Nova República. São Paulo: Summus, 1987. p.171-181.
MIGUEL JORGE. Comunicação: a favor da reserva de competência. Gazeta Mercantil, São Paulo: [1990?].
NORI, W. Comunicação empresarial no Brasil: estado atual e cenários para o futuro. In: ENCONTRO INTERNACIONAL DE COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL. São Paulo: Aberje/ Fiesp/Ciesp/IRS, 1990. p. 70-79.
NORONHA, C. A. O Estado e a informação. In: MEDINA, C. (Org.). O Jornalismo na Nova República. São Paulo: Summus, 1987. p. 91-110.
NUCCI, C. Jornalistas e... jornalistas. Folha de S. Paulo, São Paulo: 20 jul.1992, p.1-3.
PALMA, J. R. Jornalismo empresarial. Porto Alegre: Sulina/ARI, 1983.
_____. Jornalismo empresarial. 2.ed. Porto Alegre: Sagra-DC Luzzatto, 1994.
PERFIL revisto e ampliado. Revista Brasileira de Comunicação Empresarial, São Paulo: Aberje, n. 13, p. 4-7, 1994.
PIVA, M. Perfil do jornalista em funções empresariais. Anuário de Jornalismo. São Paulo, ano 1, n. 1, 1999.
QUINTÃO, Aylê-Salassie F. Divulgação governamental: uma história da relação com o poder in SINDICATO DOS JORNALISTAS PROFISSIONAIS DO DISTRITO FEDERAL. Jornalismo de Brasília: impressões e vivências. Brasília, SJPDF, 1993.
TORQUATO, F. G. Jornalismo empresarial. São Paulo: USP/ECA,1971. Tese Doutoramento.
_____. Comunicação empresarial, comunicação institucional. São Paulo: Summus, 1986.
_____. Jornalismo empresarial: teoria e prática. 2. ed. São Paulo: Summus, 1987.
RELEASE, técnica e aproveitamento, s.a., s.d
RIBEIRO, F. J. F. Assessoria de imprensa como ferramenta de marketing. Fortaleza: Universidade Estadual do Ceará, Centro de Estudos Sociais Aplicados, 2000. Monografia (Especialização) 51p.
ROSSI, C. Vale a pena ser jornalista? São Paulo: Moderna, 1986.
ROMEIRO, G. O Estado e a informação. In: MEDINA, C. (Org.). O jornalismo na nova república. São Paulo: Summus, 1987. p. 91-110.
SANT’ANNA, F. A importância dos assessores de imprensa. Jornal dos Jornalistas de Assessoria de Imprensa, Brasília, n. 1, p. 2, 1993.
SANTOS, S. M. C.; BARBI, E. Z. Assessorias de comunicação e relacionamento com a imprensa: a atuação dos profissionais de Ribeirão Preto. Manaus : Intercom, 2000. Anais.
SIMÕES, R. P. A estética das relações públicas In: CORREA, T. G. (Org.). Comunicação para o mercado: instituições, mercado, publicidade. São Paulo: Edicon, 1995. p. 101-112.
SOLOSKI, J. O jornalismo e o profissionalismo: alguns constrangimentos no trabalho jornalístico. In: TRAQUINA, N. (Org.). Jornalismo: questões, teorias e “estórias”. Lisboa: Vega, 1993. p. 91-100.
TAVARES, M. L. Jornalismo empresarial: estratégia de marketing e de interação social: uma visão editorial. São Paulo: USP/ECA, 1992. Dissertação Mestrado.
VALENTE, C.; NORI, W. Portas abertas. São Paulo: Círculo do Livro, 1990.
VIEIRA, R. A. Amaral. Comunicação, Estado e sociedade (notas preliminares). Comum. Rio de Janeiro: v. 2, n. 5, p. 27-36, jan./mar. 1979.

Texto publicado em: BARROS, A. T.; DUARTE, J.; MARTINEZ, R. E. Comunicação: discursos, práticas e tendências. São Paulo: Rideel, 2001.

O Caso Brasileiro_4

Caso Brasileiro - Notas

[1] O relacionamento das organizações com a imprensa é uma das funções de relações públicas segundo definição oficial aprovada pela Associação Internacional de Relações Públicas em 1959 (Andrade, 1988, p. 71). Logo no capítulo II, da Lei no 5.377, de dezembro de 1967, que disciplina a profissão no Brasil, são consideradas atividades específicas de relações públicas “as que dizem respeito à informação de caráter institucional entre a entidade e o público, através dos meios de comunicação”. Apesar disso, sempre houve controvérsias sobre o responsável na empresa pelo relacionamento com a imprensa. Atualmente tramita no Congresso Nacional projeto de lei apoiado pela Federação Nacional dos Jornalistas, estabelecendo que Assessoria de Imprensa é atividade privativa de jornalista. Assim, Assessoria de Imprensa seria considerada como função desempenhada por jornalistas ao lado de atividades como redator, repórter, revisor e repórter-fotográfico, num adendo ao artigo 11 do Decreto no 83.284, de 13 de março de 1979, que regulamenta o exercício da profissão.

[2] Problemas éticos no jornalismo relacionados a isso eram comuns a partir, especialmente, do amadorismo que caracterizava o trabalho jornalístico. Repórteres não pagavam imposto de renda e tinham desconto de 50% nas passagens aéreas; o duplo emprego era comum, assim como o “jabaculê”, denominação dada ao presente oferecido por uma fonte ao jornalista. Assis Chateaubriand declarou em 1961, quando os jornalistas conquistaram o piso profissional: “Mas por que vocês fazem greve por piso? Eu estou dando para vocês emprego e espaço no jornal para escreverem. Porque vocês não ganham dinheiro com isso? Eu fiz minha fortuna assim” (Romeiro, 1987: 102). Considere-se, entretanto, que, naquele período, o jornalismo era em geral uma atividade complementar e os repórteres eram obrigados a ter outras fontes de renda para sobreviver. Segundo Medina (1982: 46), esta situação retardou a profissionalização da carreira.
[3] Consideramos como a melhor definição para assessoria de imprensa a apresentada por Chaparro (1989, p. 06): “a prática do jornalismo a nível de fonte, para assegurar aos meios de comunicação a qualidade da informação, sob o ponto de vista da técnica jornalística e da relevância social”.

[4] A visão que o jornalista em geral tinha do assessor de imprensa é dada por Noronha (1987, p. 94): “... um indivíduo que funcionava como uma barreira entre a fonte e os meios de Comunicação. Estava colocado com a intenção de esconder a notícia. (...) Se comportava muito mais como um relações públicas”.

[5] Quintão conta que, em 1983, 1.814 jornalistas foram enquadrados como técnicos em Comunicação Social do Serviço Público. “Outro tanto desses profissionais, contratados anteriormente em funções diferentes, não puderam ser absorvidos na mesma carreira, mas permaneceram funcionários do governo” (1993, p. 216).

[6] Os antecedentes são de 1978, quando foi feita uma tentativa de greve, mas contornada. Em 1979, a greve aconteceu, os patrões endureceram e houve estimadas 200 demissões. Para Abramo (1988:93), “a greve foi um suicídio” e desmoralizou a categoria.

[7] Um terço dos profissionais recebiam até seis salários mínimos, que era o piso previsto em lei para a profissão. O depoimento de Antonio Alberto Prado é elucidativo: “Nós, jornalistas, muitas vezes vemos nossa profissão como uma espécie de religião. Como para um padre, também para nós é muito difícil deixar a batina. No entanto, eu descobri que a enorme bagagem que os repórteres reúnem estava repleta de ferramentas fundamentais, desejadas, apreciadas e melhor pagas nas indústrias e em outras empresas não-jornalísticas” (O FUTURO..., 1993, p. 32).

[8] Em 1985 a Rhodia lançou seu Plano de Comunicação Social caracterizado como uma “Política de Portas Abertas”. Tratou-se de um avançado e pioneiro programa de comunicação empresarial. Bueno (1989, p. 5) informa que a política adotada pela Rhodia serviu de paradigma para as demais organizações. Ver mais sobre o assunto em Valente & Nori, Portas Abertas, Círculo do Livro, 1990, que traz um detalhado relato sobre o programa de abertura no diálogo entre a empresa e a sociedade no período entre 1982 e 1988. O livro é um clássico na literatura brasileira de comunicação organizacional por mostrar um tipo de posicionamento e exemplos de ações que acabaram tornando-se referências inevitáveis para a grande maioria das empresas brasileiras.

[9] Pesquisa realizada junto aos cursos de comunicação do Estado do Rio de Janeiro mostrou que, num universo que variou de 5% a 10% dos cerca de 11 mil alunos matriculados em cursos de Jornalismo, a área de comunicação empresarial e institucional é a segunda grande área de absorção dos profissionais (Lopes, 1997, p. 66).

[10] Os principais autores evitam o termo norte-americano house-organ pois, traduzido por “órgão da casa”, não representa a abrangência e a variedade das publicações empresariais (Torquato, 1987; Palma, 1994). Apesar de haver um certo consenso sobre esta inadequação, ainda é utilizado com freqüência.

[11] Na maior parte dos países, a atividade dos profissionais de relações públicas inclui o que no Brasil se convencionou chamar de assessoria de imprensa. Toda a prática de assessoria de imprensa ou produção de publicações empresariais faz parte do acervo teórico de relações públicas e é tratada nos livros desta atividade.

[12] Romeiro (1987, p. 103) diz que “o relações públicas é formado para promover as coisas. (...) Na hora em que é abordado por um jornalista, tende, instintivamente, a deixar o jornalista insatisfeito”. Simões (1995, p. 102) acredita que as relações públicas foram contaminadas por “um vírus pejorativo” e atribui parte da responsabilidade aos jornalistas. Em pesquisa realizada junto a 20 jornalistas em 1987, a maioria com cargos de chefia nas redações dos mais importantes diários do País, a Agência de Comunicação Social detetou que eles dão preferência aos contatos pessoais com os diretores de empresas, na presunção de que as assessorias de relações públicas não lhes contam toda a verdade (Release..., [19--]). Palma(1994, p. 74) diz que “muitas vezes (...) [o relações-públicas] é mesmo culpado pelas imputações que lhes são feitas”. Ele justifica afirmando que o relações públicas negligencia as regras básicas da notícia, bombardeia as redações com grande quantidade de relises de interesse unilateral, longos e redundantes. A crítica, entretanto, pode ser extensiva a muitos jornalistas assessores de imprensa.

[13] Uma maneira relevante de estudar a importância e atuação dos profissionais de assessoria de imprensa é pelo seu poder junto às redações: pesquisa realizada em Fortaleza, CE, em 2000, junto aos dois principais jornais do Estado, mostrou que, durante os cinco dias da coleta de dados, foi grande a influência das assessorias de imprensa no material editorial veiculado. No jornal O Povo, das 71 sugestões de pauta recebidas, 39 (54,9%) foram aproveitados de alguma forma naquela semana, totalizando 2,46 páginas inteiras. Das 64 sugestões de pauta que o jornal Diário do Nordeste recebeu, 31 (ou 48,43%) foram aproveitadas, significando 1,99 página de espaço editorial. O pesquisador nota que não foram examinadas sugestões de pauta e relises enviados naquela semana e aproveitados nas semanas seguintes, o que poderia ampliar o percentual. (Ribeiro, 2000).

[14] Existe uma relação de origem entre assessoria de imprensa e relações públicas: na primeira década deste século, o então jornalista norte-americano Ivy Lee deixou a imprensa para atuar na divulgação de empresários e orientá-los na conquista da opinião pública por meio da mídia. Também desenvolveu técnicas para influenciar as decisões jornalísticas. Em 1906 ele criou uma carta de princípios no seu relacionamento com a imprensa que passou a ser referência no assunto. Hoje é reconhecido como o primeiro assessor de imprensa da história e é considerado por muitos o "pai das relações públicas". Antes dele, a frase "the public be damned", atribuída ao empresário Henry Vanderbilt, sintetizava o padrão vigente no relacionamento dos grandes empresários com a imprensa.

[15] Entrevista a este autor.

[16] Marcondes Filho (1989, p. 31) mostra que os veículos de comunicação de massa, como instituições de natureza empresarial, utilizam a notícia como uma de suas mercadorias e não com o fim democratizante da informação: “mercadoria pura e simples, matéria solta e universal, como as demais mercadorias, fato social sem história e com reduzida ação no presente, reduzida inter-relação entre criador e receptor, reduzida proposta e colaboração para uma transformação individual e coletiva: alimento simbólico para a mente (...) O que se vende é a aparência do valor de uso”. Por outro lado, também afirma que só as empresas de comunicação têm “um falar genuinamente jornalístico. Todos os demais são veículos oficiais de transmissão de opiniões particularistas”, referindo-se a publicações empresariais e agências de notícias de sindicatos, igrejas e universidades”. (1993, p. 143).

[17] Ao assessor de imprensa cabe criar ou sugerir fatos ou eventos que possam ocupar espaço na mídia ou produzi-los especialmente para que sejam notícia. Esta atividade do jornalista já é institucionalizada.

[18] O artigo 13, por exemplo, diz que o jornalista deve “evitar a divulgação de fatos com interesse de favorecimento pessoal ou vantagens econômicas”, o que é a essência do trabalho do assessor de imprensa de empresas privadas. Enquanto o código de ética brasileiro proíbe o profissional de exercer cobertura jornalística pelo órgão que trabalha, em instituições onde seja funcionário, nos Estados Unidos o tema é bastante discutido, mas a opinião prevalecente é que o jornalista sequer pode se envolver com instituições - associações e partidos, inclusive - que possam influenciar, indevidamente, sua capacidade de noticiar imparcialmente. O código de ética da Associação de Editores Administrativos Associados de Imprensa para Jornais e seu Pessoal diz que “o emprego paralelo em fontes de notícia é óbvio conflito de interesses...” (Goodwin, 1993, p. 442), sem referir-se, como no brasileiro, que o jornalista cubra necessariamente esta fonte.

[19] Marinho mostra que os profissionais de uma determinada área tendem a exercer controle sobre seus pares, ao mesmo tempo em que praticam sanções monopolísticas contra eventuais intrusos. “São os interesses dos membros de uma profissão por poder, riqueza e prestígio que os leva a lutar pela conquista e manutenção de seu monopólio de competência” (1986, p. 108).
[20] Rossi, com base em dados fornecidos pelo Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de S. Paulo, estimava, embora a partir de dados que não considerava rigorosos, que em 1985 havia mais de 4.000 profissionais que não conseguiam atuar na área no Estado (1986, p. 39).
[21] Isto ocorre, de outra maneira, nos veículos de comunicação de massa. Os jornalistas que maior destaque obtêm não são necessariamente os de melhor texto, mas também aqueles que têm melhores fontes, cultivadas geralmente durante muito tempo e que por isso podem oferecer a seu público informações e análises exclusivas.

[22] Piva (1999, p. 82-83) traça o perfil necessário do jornalista em funções empresariais: estrategista político, articulador, consultor/conselheiro, capacidade de relacionamento, administrador de conflitos, capacidade para ler e interpretar o meio ambiente, dominar os meios clássicos de comunicação e descentralizador de operações.

[23] Enquanto o jornalista é preparado nas universidades basicamente para pensar a transmissão da informação à sociedade via veículos de comunicação de massa, o relações públicas estuda a lógica da comunicação com uma finalidade mais estratégica para a organização, ou conceitualmente, “promover, através do esforço deliberado, planificado e contínuo, a compreensão mútua entre instituição e os grupos e pessoas a que ela esteja diretamente ou indiretamente ligada”.

[24] Importante é distinguir entre “profissão”, regulamentada e exercida por pessoas oficialmente credenciadas, e a “atividade”, que é o exercício dos preceitos, no caso, da função de relações públicas. O preconceito e a recusa em aceitar que assessoria de imprensa é uma atividade típica de relações públicas parece até impedir que alguns jornalistas procurem a literatura da área, onde estão conhecimentos que o ajudariam a desempenhar melhor suas atividades em uma organização. O impasse resultante da ambigüidade ao exercer diferentes papéis profissionais mereceria maior discussão em nível universitário, em particular sobre a formação curricular de um jornalista que provavelmente não vai trabalhar em veículos de comunicação de massa.

[25] Um dos problemas que trouxe imagem negativa à profissão de relações públicas é sua relação original com práticas autoritárias de comunicação impostas pelo governo federal, primeiro com o DIP, no governo Getúlio Vargas, e, depois, com a Assessoria Especial de Relações Públicas. Criada por militares de linha dura em 1968, a AERP e as áreas de comunicação que a sucederam se caracterizaram pela autopromoção do regime militar e por dificultar o fluxo de comunicação entre governo e sociedade.

[26] Apesar de a atuação do jornalista em assessorias de imprensa estar institucionalizada e caracterizada como importante mercado, pesquisa realizada em 17 universidades do Estado do Rio de Janeiro mostrou que 66% não ofereciam disciplinas voltadas para a área de assessoria de imprensa (Lopes, 1997, p. 66). A assessoria de imprensa é, como vimos, a área de atuação mais rudimentar para o profissional de jornalismo em uma organização não-jornalística e, ainda assim, exige o domínio de uma série de técnicas particulares.

O Caso Brasileiro_3


A NOVA ETAPA, A COMUNICAÇÃO ESTRATÉGICA

A assessoria de imprensa e a produção de publicações jornalísticas empresariais são atividades que podem ser incluídas no campo da comunicação organizacional, onde cada atividade tem seu papel específico e interage com as demais (relações públicas, publicidade e propaganda, editoração, comunicação mercadológica, etc.), no que Kunsch (1986, p. 107) chama de “composto de comunicação”. Nele, não há trabalho isolado de comunicação, mas uma integração natural de subsistemas que compõem a organização.

Torquato (1986, p. 68) diz que “a comunicação empresarial sistêmica dá unidade a um conceito de empresa, harmonizando interesses, evitando a fragmentação do sistema, promovendo, internamente, sinergia negocial e, externamente, comportamentos e atividades favoráveis à organização”. Torquato e Kunsch apontam a necessidade, nas empresas, de um sistema de comunicação reunindo atividades mercadológicas e institucionais. Neste modelo, é exigido um profissional com novo perfil, menos especializado e com visão global da empresa e seus objetivos. “Estamos entrando numa era em que o profissional de comunicação empresarial deixa de ser um mero executor de políticas para se transformar num elemento formulador de estratégias”, anunciava Torquato (Perfil..., 1994, p. 5).

“Hoje, dele requer-se muito mais do que apenas um bom trabalho de divulgação e coordenação de contatos com a imprensa ou comunidades” (Perfil..., 1994, p. 4). Esta era chegou em definitivo. A comunicação empresarial passa a ser percebida pelo empresário como instrumento fundamental, não apenas para viabilizar uma imagem favorável da empresa, mas como imprescindível para o sucesso da organização, inclusive no apoio aos objetivos mercadológicos, mesmo que de forma indireta. A partir deste momento, para administrar a comunicação, ignoram-se a formação e habilidades específicas de cada profissional, e busca-se alguém com “boas noções sobre marketing e administração, uma visão ampla da empresa em que trabalha, como ela funciona e, principalmente, saber como pode ajudar a empresa a realizar lucro” (Perfil..., 1994b, p. 7). E este é um mercado cada vez mais à disposição do profissional de jornalismo, mesmo que a maior parte do arcabouço teórico da atividade esteja relacionado a atividades como relações públicas, administração ou marketing. Na verdade, o jornalista passa a ocupar este espaço não ao assumir atividades típicas e limitadas à assessoria de imprensa, mas a partir do alargamento de sua visão de comunicação. [22]

Um exemplo desta mudança é apresentado pelo autor de uma das obras de referência brasileira sobre jornalismo institucional. Jaurês Rodrigues Palma, na primeira edição do livro Jornalismo Empresarial, de 1983, coloca o serviço de imprensa vinculado ao serviço de relações públicas, executando atividades bastante específicas: assessoria de imprensa e produção de publicações. Na segunda edição, de 1994, mostra como a situação se modificou e o jornalista passou a ampliar seu espaço de ação: “Se Comunicação Empresarial é macroárea, se Relações Públicas, Publicidade e Propaganda e Jornalismo são subsistemas, então fica estabelecido que o gerenciamento do supersistema, do processo global não é atribuição pré-definida de nenhum dos subsistemas e sim do profissional melhor habilitado” (Palma, 1994, p. 16).

O jornalista, em muitos casos, passa a coordenar toda a comunicação da empresa. Em termos de posicionamento profissional, deixa de executar assessoria de imprensa ou a produção de publicações empresariais, para pensar estrategicamente a comunicação. Isto, entretanto, não pode ser considerado ainda como comum, inclusive porque o background da profissão e a formação universitária não o levam nesta direção. O resultado é que a divulgação parece ser ainda a única face visível da comunicação para muitos dirigentes e jornalistas. Tende-se a imaginar que problemas de comunicação possam ser solucionados pela assessoria de imprensa, o que, embora possa ser um bom primeiro passo, dificilmente é suficiente. Para avaliar o assunto, basta examinar o arsenal de instrumentos de comunicação à disposição do profissional e a própria noção de “públicos” obtida na teoria de relações públicas.

Sem esta reflexão muitos profissionais não descobrem o potencial da ampliação de sua atividade profissional original, inclusive porque, em geral, falta a socialização dos colegas mais experientes, como nas redações, onde ao aprendiz recém-chegado são ensinadas, mesmo que por osmose, as políticas editoriais e o uso peculiar das técnicas pelo veículo. O resultado é que “muitos comunicadores têm responsabilidades estratégicas, mas preferem dedicar-se aos boletins informativos” (Corrado, 1994, p. 41). Ou seja, muitos jornalistas, por força de sua experiência limitada às redações ou formação universitária incompleta, tendem a entender as possibilidades da comunicação organizacional como mera produção de publicações empresariais e veiculação de matérias na imprensa.

O papel estratégico de administração dos processos de comunicação na organização parece surgir apenas pela visão ampliada do processo, em geral após uma lenta aprendizagem, baseada na experiência e interesse pessoal ou pelo nível de exigência imposto na organização. A dinâmica e as novas exigências do mercado estão tornando cada vez mais fluída a diferença entre a formação original de cada profissional. Limitar o campo de atuação pode ser um erro estratégico para os profissionais de qualquer área.

A capacidade de posicionar a atividade como “Comunicação Estratégica” e não em termos conceitualmente limitados como “organização de eventos”, “atendimento ao público”, “assessoria de imprensa” ou “jornalismo empresarial” é fundamental para quem quiser expandir seus horizontes profissionais. O nome do paradigma à disposição no mercado é “Comunicação” e as possibilidades que se abrem a partir do conceito imposto por esta terminologia ampliam notavelmente as oportunidades e exigências de atuação. Bueno (1995, p. 5) identifica a mudança no campo do jornalismo: “pelas novas demandas, o assessor de imprensa deixou de ser apenas um emissor de releases, despontando, hoje, como um produtor ou mesmo um executivo de informações e um intérprete do macroambiente”.

O novo profissional de Comunicação Empresarial deve ter capacidade de identificar e trabalhar com cenários do ambiente interno e externo, e ter domínio sistêmico sobre todas as áreas de comunicação. A assessoria de imprensa, por exemplo, continua importante, mas é apenas uma tarefa operacional básica e limitada. Apesar da penetração neste mercado e da ajuda que o jornalista pode prestar à empresa, o profissional que tem o melhor currículo universitário para administrar a comunicação da empresa é o profissional de Relações Públicas. [23]

Embora esta atividade continue extremamente relevante, [24] a denominação parece ter sofrido um desgaste tão grande, que apesar do esforço de muitos profissionais, ainda não foi possível superá-lo. Esta corrosão é tema recorrente nas discussões no âmbito da profissão e a tendência é relacioná-la principalmente a partir de seu uso pelo regime militar imposto ao país, [25] à vinculação ao lobby (na acepção mais negativa possível), à precoce regulamentação, problemas na formação universitária, e à tradição de corporativismo no uso do nome da profissão que impediu sua adoção por profissionais reconhecidamente competentes, mas sem a formação prevista na legislação.

Um dos resultados do desgaste da profissão é a perda de postos nas organizações, conseqüência da ocupação de suas atividades originais por profissionais com outras formações que chegam a adotar outras terminologias profissionais (gerente de comunicação é a mais comum) para desempenhar tarefas típicas de relações públicas. Outro sinal é a introdução de termos como endomarketing, marketing institucional, marketing social, marketing de relacionamento, mídia training, stakeholders, todos incorporando conceitos historicamente relacionados à prática de relações públicas, mas apresentados como “novidades” por profissionais de outras áreas, ganhando enorme visibilidade no mercado.

Na atuação em atividades de comunicação organizacional, seja pelo perfil pessoal, visão crítica inerente à profissão, pela maior proximidade com o poder, ou ainda por sua atuação em uma atividade mais visível e de maior interesse imediato para os dirigentes como é o relacionamento com a imprensa, muitos jornalistas ampliaram sua área de atuação e assumiram posições de destaque na estrutura de comunicação de organizações, coordenando áreas que podem levar nomes como comunicação social, comunicação corporativa, relações com a comunidade, etc. E, apesar da cada vez maior presença neste novo mercado, um profissional completo, que agregue à sua formação especialista uma visão mais generalista, está por se tornar comum. “Ainda não temos no mercado profissionais de qualidade que entendam a comunicação organizacional no sentido sistêmico. Temos, na realidade, profissionais de RP com visão muito limitada, jornalistas bons de texto mas com visão também limitada...” (Torquato, 1995, p. 16).

Para o jornalista, um novo campo de trabalho, na área de gerenciamento dos processos de comunicação está sendo oferecido pelas organizações de todo tipo: ONGs, entidades de classe, associações, empresas, escolas, órgãos públicos. Mas, ao mesmo tempo, as exigências são maiores. Haverá, sempre, espaço para atividades técnicas como produção de releases, de jornais empresariais, edição de conteúdo em sítios na internet.

Se, entretanto, optar por tornar-se estrategista, administrador dos fluxos de comunicação ou buscar converter a comunicação em uma ferramenta à serviço dos objetivos organizacionais, as oportunidades são infinitamente maiores. “Os repórteres, redatores, diagramadores e coordenadores de eventos continuam sendo imprescindíveis [...] mas certamente a cabeça do negócio da comunicação estará, cada vez mais, no profissional que concilia competência técnica com uma visão gerencial moderna e que sabe vislumbrar, com lucidez, a íntima relação entre comunicação e negócios.

A esse profissional está reservado o comando. Pensando bem, ele merece o cargo” (Bueno, 1995, p. 25). No novo modelo de comunicação que se consolida, passam a existir três tipos de profissionais de jornalismo. Há o tradicional, nas redações. E há também dois novos campos, criados no caso particular brasileiro. Aqueles que realizam trabalho de execução como o que faz assessoria de imprensa, produz conteúdo na internet ou elabora a publicação da empresa [26].

E há também aquele, de formação original em Jornalismo, diretamente ligado à alta administração das organizações, e que ajuda a definir seus rumos, utilizando a comunicação como insumo na tomada de decisões. E parece ser este que, no futuro, irá ser o grande estrategista de comunicação na maior parte das organizações. Depois de vencer o tabu de seus próprios pares, o jornalista agora enfrenta o desafio de prover soluções em Comunicação Organizacional.

O Caso Brasileiro_2


ASSESSORIA DE IMPRENSA É JORNALISMO?

Atividade originariamente exercida por relações públicas [11] a assessoria de imprensa, assim como a edição de publicações jornalísticas empresariais, passou a ser executada no Brasil essencialmente por jornalistas a partir da restrição no mercado e pelo interesse das organizações em profissionais com acesso facilitado às redações.

Esse processo, entretanto, não se deu de modo tranqüilo. Houve muita discussão e até debates jurídicos sobre o assunto. Embora a profissão de relações públicas tivesse entre suas funções “divulgação jornalística interna” e “elaborar publicações de empresa...” (Gaspar, 1984, p. 86), estudos jurídicos feitos pela Associação Brasileira de Imprensa e Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado de São Paulo sustentam que essa é uma responsabilidade privativa dos jornalistas profissionais. Mas o assunto gera controvérsias. Teóricos de relações públicas tendem a considerar a assessoria de imprensa e as publicações empresariais como instrumentos de relações públicas, embora admitam que possam ser executadas por jornalistas.

Na década de 1980, ao mesmo tempo em que o mercado de publicações empresariais e de assessoria de imprensa é ampliado e passa a ser ocupado basicamente por jornalistas, o relações públicas vê reduzidas as possibilidades de atuação nestas áreas. Entre os motivos estão o preconceito com que era visto nas redações, porque teria dificuldades em compreender os interesses da imprensa, [12] ou o grande número de jornalistas que se viram sem mercado na grande imprensa e passaram a buscar novos tipos de trabalho em veículos alternativos e assessorias. Esta última situação fez com que muitas vezes as assessorias fossem encaradas como refúgio de profissionais que não deram certo nas redações (Valente; Nori, 1990, p. 119).

Com jornalistas nas assessorias de imprensa, além do crescimento rápido na sua importância em termos de mercado para profissionais da área, aumenta a presença e uso de relises pelas redações. [13] Lima (1994, p. 111) afirma que “muitos jornais encontrariam dificuldades para manter suas portas abertas se não pudessem contar com o material distribuído pelas assessorias de imprensa”.

Erbolato vê distorção séria nas facilidades operacionais oferecidas pelas assessorias de imprensa aos veículos de comunicação. Ele diz que no serviço público, especialmente no interior, onde os veículos de comunicação possuem grande dependência da publicidade oficial, o release vira moeda de troca. Publicado na íntegra, deixa o público “mal informado, manipulado, acreditando só em acertos por parte dos governantes...” (Erbolato, 1982, p. 122).

Kucinski (1986, p. 17) mostra que o problema também alcança esfera maior, embora dissimuladamente: “Hoje você vai cobrir um departamento do governo, alguma empresa e tem lá o jornalista para receber você. Formou-se uma promiscuidade que levou a um mascaramento da função do jornalista”.

O problema tem relação com o vínculo original da atividade de assessoria de imprensa com as relações públicas. [14] Para Chaparro, a assessoria de imprensa deveria liberar-se deste vínculo e de sua relação histórica e natural com o marketing e o lobby. "Como atividade jornalística, a assessoria de imprensa deve assumir as funções, os critérios e os valores do jornalismo - não apenas os técnicos, mas também os éticos” (Chaparro, 1989, p. 45).

Outro ângulo de discussão remete aos fundamentos da profissão. Jornalista é uma atividade essencialmente crítica, de oposição. Seu vínculo a uma proposta semelhante à promoção ainda é tema de discussões no meio acadêmico dos Estados Unidos, e mesmo nas redações. “Os editores, em geral, não fazem objeções à filiação de seus jornalistas a igrejas convencionais e outras organizações razoavelmente não controversas (escoteiros, rotarianos e semelhantes), mas podem impedir que membros da redação assumam qualquer função nessas organizações, especialmente se houver qualquer envolvimento na área de publicidade ou relações públicas” (Goodein, 1993, p. 73).

Isto também ocorre no Brasil, mas apenas com alguns dos grandes veículos de comunicação, que exigem exclusividade e tendem a pagar melhor salário por causa disto. O mais comum, entretanto, é o duplo emprego - em redações e assessorias, principalmente devido aos baixos salários pagos em jornais de pequeno e médio porte, em particular fora das grandes capitais.
O professor Pierre Fayard, da Université de Poitiers, França, [15] explica que é inimaginável no modelo europeu um jornalista profissional atuar como divulgador, porque a carta (chamada registro, no Brasil) de jornalista é dada a pessoas que vivem da atividade em veículos de comunicação e, para trabalhar nestes veículos, não podem atuar em atividades relacionadas às relações públicas.

Um exemplo do caso europeu é Portugal, onde o jornalista que passa a trabalhar em uma organização não-jornalística é obrigado a afastar-se do sindicato e, portanto, perde o direito à exercer a profissão. “No sector empresarial (público ou privado) as funções de ligação aos media são geralmente desempenhadas por pessoal integrado em ‘gabinetes de relações públicas’ ou gabinetes de ‘imagem’ ou mesmo em gabinetes de marketing. São, em geral, ‘técnicos’ ou ‘redactores’ de relações públicas com formação específica” (Deschepper, 1992, p. 28).
Num estudo em dezenas de países sobre o jornalista, a Organização Internacional do Trabalho traça um perfil da profissão e a assessoria de imprensa é tratada como atividade de relações públicas, podendo ser exercida por ex-jornalistas. Nesta visão, o profissional, ao trabalhar em uma empresa não-jornalística, passa a ser considerado como relações públicas, divulgador ou similar. Há, assim, a tendência a considerar o trabalho de divulgação jornalística como relações públicas ou propaganda.

Marques de Melo explica que existe uma fronteira entre o jornalismo e as relações públicas e a propaganda. Esta fronteira é a persuasão, que nas últimas chega a apelar para o imaginário e o inconsciente, enquanto que o jornalismo “atém-se ao real, exercendo um papel de orientação racional” (Melo, 1985, p. 9).
O uso de técnicas jornalísticas para a divulgação seria apenas uma estratégia de relações públicas ou propaganda e não jornalismo no sentido dado por Beltrão (1992, p. 67): “jornalismo é a informação de fatos correntes, devidamente interpretados e transmitidos periodicamente à sociedade, com o objetivo de difundir conhecimentos e orientar a opinião pública, no sentido de promover o bem comum”.

No Brasil, é exigido curso universitário, o que faz que o diplomado possa exercer a qualquer tempo a profissão e possa ser chamado de jornalista mesmo que não atue como tal. É profissionalmente aceito, por exemplo, trabalhar ao mesmo tempo em um veículo de comunicação e em uma assessoria de imprensa. Este duplo emprego é restringido apenas por alguns veículos. Os sindicatos tendem a ver problemas éticos apenas quando o jornalista trabalha em uma editoria que possa ter relação com o emprego de assessor.

Existe pouca discussão sobre este assunto, embora a fidelidade dos jornalistas às normas deontológicas da profissão devesse contrariar os pressupostos da sua atuação em empresas de outro ramo, que não o de veículos de comunicação de massa. Vieira afirma que o comunicador social que atua em empresas públicas deve agir como “um instrumento da sociedade”. Assim, os assessores de comunicação destas empresas não podem ser confundidos com “agentes fabricadores da imagem das empresas, instituições e seus dirigentes. Este papel, que não tem correspondência na ética da profissão, pode e deve ser rejeitado” (Vieira, 1979, p. 33).
Nucci diz ser bizarro o consenso de que assessores de imprensa sejam também considerados jornalistas. Ele aponta a diferença principal: “Jornalista representa e defende os interesses dos seus leitores. Escuta a comunidade, investiga, confronta, analisa e publica. O assessor de imprensa trabalha os interesses dos clientes” (Nucci, 1992, p. 1-3). Isto gera, em sua avaliação, uma “ação entre amigos” em que o público sai perdendo.

O artigo mereceu uma resposta no âmbito acadêmico. Cheida defende os assessores sob o argumento de que o que vale, tanto em um como em outro caso, é a verdade factual, ou seja, o jornalista “tem o compromisso ético de apreender a verdade factual, tomando-a como um bem social e ser um crítico observador da realidade” (Cheida, 1993, p. 117). Para ele, o fato de o jornalista trabalhar em uma empresa não-jornalística “não implica numa adesão a uma única versão dos fatos, mas sim na especialização dos assuntos pertinentes à instituição assessorada” (Cheida, 1993, p. 116).

Nesse aspecto, a alternativa apontada remete a Chaparro, que prega o caráter eminentemente informativo do jornalista, tanto nos aspectos técnicos como éticos. Isto, entretanto, significa deixar em segundo plano a característica de “assessor” do jornalista, que implica no aconselhamento, como técnico especializado, a seu contratante. A atividade do jornalista assessor de imprensa, em primeiro lugar, serve aos propósitos da organização e seus dirigentes, inclusive porque dela é contratado, o que torna difícil imaginar que privilegie a imprensa em detrimento da instituição.

Do ponto de vista dos jornalistas, entretanto, não há necessariamente problema em trabalhar em uma organização não-jornalística. Afinal, os veículos de comunicação de massa atendem à necessidade social de informação, se são também uma propriedade industrial e comercial como qualquer outra, tanto que seu desenvolvimento está ligado à ampliação das trocas comerciais e da publicidade.

Do ponto de vista do profissional, a relação pode ser considerada apenas como de empregado-patrão. Como avalia Moreira (1987, p. 174): “Você é jornalista em qualquer lugar. [...] Não há diferença em trabalhar para o Mesquita (Grupo ‘O Estado de S.Paulo’) ou numa assessoria como a da Volks”. Também há que se considerar o caráter de mercadoria da informação, que a torna um produto essencialmente ideológico e mercadológico, como demonstra Marcondes Filho. [16]
A compreensão da aparente contradição do jornalista, um profissional de função essencialmente crítica, atuar como consultor na área de divulgação e, inclusive criar fatos, [17] o que vai contra os princípios da atividade, pode ser obtida em Soloski (1993), que demonstra que o profissionalismo jornalístico controla o comportamento dos jornalistas a partir do estabelecimento de padrões e normas e do sistema de recompensa profissional.
Por meio da educação profissional, estágio e aprendizagem profissional, os jornalistas estabelecem a base cognitiva para a profissão, compartilhando normas aceitas por todos os integrantes da categoria. Estas normas estão acima inclusive dos interesses dos veículos de comunicação, que se vêem obrigados a estabelecer políticas editoriais para exercer um certo controle sobre seus jornalistas.

A aceitabilidade por profissionais do mercado tradicional – as redações –, de que o jornalista atue em assessorias e continue utilizando o título de jornalista, garante o direito ético de exercê-la. Isto só mudaria se houvesse um forte sentimento profissional contrário a esta especialização, ou seja, que a maioria dos profissionais considerasse reprovável esta atuação, o que não ocorre, ou ainda, que não houvesse a aceitação pública do monopólio da profissão, o que especialmente os profissionais de relações públicas não conseguiram evitar. Assim, o duplo emprego (redações e assessoria) tende a ser eticamente aceito.

O profissionalismo é que determina a legitimidade da atuação do jornalista em organizações não-jornalísticas. No Brasil, por estranho que possa parecer a profissionais de outros países, a figura do assessor de imprensa, uma função típica de relações públicas, assumir o título de jornalista é aceita, inclusive em nível acadêmico, mesmo que haja alguma incompatibilidade com o código de ética da profissão [18]. Mais do que aceita, a presença do jornalista em assessorias de imprensa foi até estimulada pelas redações no momento em que se fazia críticas à competência dos profissionais de relações públicas para exercer esta função. [19]

Os jornalistas perceberam nas assessorias um providencial mercado de trabalho a ser ocupado na ausência de vagas nas redações [20] e competiram por ele com os profissionais de relações públicas. Como os jornalistas conhecem melhor os mecanismos de funcionamento das redações e os interesses da imprensa, não foi difícil obter melhores resultados nesta atividade, o que ajudou o mercado a ficar a seu favor. A solidariedade profissional entre jornalistas de ambos os lados, neste caso um tipo de corporativismo, certamente também teve bastante influência.

A atividade dos assessores de imprensa tem seu controle feito nas redações como um filtro e nelas é que a credibilidade e competência do profissional são testadas diariamente. O assessor de imprensa tem como capital pessoal para realizar seu trabalho a técnica jornalística e seu relacionamento pessoal com as redações. [21]

Se fugir técnica ou eticamente às normas da profissão, é provável que seja evitado por profissionais destas redações e sua atuação fique comprometida. Santos e Barbi (2000), em estudo realizado junto às 14 assessorias de imprensa de Ribeirão Preto, SP, notam que “as assessorias, por pertencerem majoritariamente a jornalistas, acabam por adotar um padrão ético de atuação próprio desta profissão. E esses profissionais, embora não tenham formação adequada ao exercício de assessor, têm compromisso ético e consciência sobre a importância e o impacto da informação junto à opinião pública”.

A condição de que o assessor de imprensa somente apresenta os fatos a partir do ponto de vista da organização ou do assessorado é fato claro no jogo de relações e aceito tacitamente pelas redações, a quem cabe o papel de agir criticamente e investigar as informações recebidas. Deste ponto de vista, a prática de assessoria de imprensa pode, em muitos casos, ter uma vantagem ética, afinal produz informação assumidamente posicionada, mas necessariamente verdadeira, o que nem sempre ocorre nos veículos de comunicação de massa, que se postulam como imparciais e objetivos, mas que veiculam, em variadas circunstâncias, informações adaptadas à sua linha editorial e interesses.

O problema, assim, passaria a ser mais relacionado à falta de crítica e à acomodação do jornalista do veículo, que usa à farta material das assessorias do que propriamente da atuação do assessor de imprensa. Torna-se mais fácil ao repórter obter o release e uma declaração oficial do que investigar o assunto, o que demandaria tempo e uma equipe maior nas redações. A informação via release é sempre informação e, presume-se, verdadeira. Cabe ao veículo fazer a necessária avaliação crítica e dar a sua abordagem editorial própria, utilizando o texto como pauta ou matéria acabada.

Devido à aceitação profissional do jornalista atuar em empresas não-jornalísticas e ao fato de a legislação permitir que uma pessoa continue sendo jornalista mesmo não exercendo a profissão, é que no Brasil há jornalistas que não atuam na área e jornalistas assessores de imprensa. Se a origem desta segunda atividade é a diminuição no mercado de trabalho original – as redações e se o horizonte normativo das duas práticas é diferente, isto não chega a ser tão importante quanto o acordo e aceitação tácita de que o jornalista pode atuar em assessorias de imprensa e usar o título. Isto ocorre sem qualquer constrangimento profissional, mesmo com raras discriminações e observações como a de Chaparro que diz que a prática de dar à informação tratamento de relações públicas é, na realidade, “simulação jornalística” (Chaparro, 1990, p. 130).

Apesar de críticas como a de Chaparro, que propõe limitar o papel do jornalista a lidar com a notícia de interesse estritamente jornalístico, o que se percebe no mercado é que as assessorias de imprensa são cada vez mais utilizadas para produzir informação de modo a influenciar os diversos públicos da organização. Se os veículos de comunicação agem por meio da seleção de assuntos de seu interesse, é natural que o assessor de imprensa tente pautá-los a partir do ponto de vista de quem lhe paga.

Assim posto, a assessoria de imprensa é um instrumento estratégico fundamental, já que sua boa atuação aumenta a visibilidade pública da organização por meio dos veículos de comunicação de massa. Estes não apenas divulgam o que a organização deseja, mas agregam ao noticiário seu aval e credibilidade, mostrando aquilo em que acreditam e, num círculo vicioso, dando credibilidade à notícia que veiculam.

O cidadão, na ausência de outros mediadores sociais, vê-se compelido a crer no que lhe informa seu noticiário favorito. Este processo ocorre na dimensão apontada por Marcondes Filho (1993, p. 16): “tudo gira em torno do que se fala, do que é promovido, do que é comunicado, do que ganha a dimensão pública, do que atinge as massas”.

Por perceber isto ou mesmo instintivamente é que, cada vez mais, empresas e instituições brasileiras têm interesse em contar com jornalistas para divulgar suas atividades e interesses por meio dos meios de comunicação, expandindo o mercado para os jornalistas recém-formados ou desempregados e aumentando a renda dos mais experientes.

E quanto maior a importância do veículo de comunicação ou de determinada editoria na qual se busca presença, mais qualificado deve ser o assessor. Em veículos de comunicação de menor importância é possível obter espaço editorial mais facilmente. No contato com os grandes veículos é que a habilidade, o relacionamento, a técnica e a experiência do assessor de imprensa se tornam ainda mais fundamentais, pois a seleção é mais rigorosa. A filtragem por parte dos veículos tende a eliminar o produto não-jornalístico ou que contenha informações de má qualidade.

O Caso Brasileiro_1


Assessoria de imprensa: o caso brasileiro

A atuação de jornalistas em divulgação institucional no Brasil não é recente. Ainda na primeira metade do século XX, era comum a presença de jornalistas em gabinetes de divulgação de órgãos públicos, geralmente chamados setores de relações públicas, distribuindo textos para a imprensa, muitas vezes num jogo em que o profissional ganhava destaque no emprego público por ter seu nome presente nos jornais e facilitava o trânsito das matérias do próprio órgão nas redações.

Já relatos a respeito da implantação da atividade de assessoria na forma similar à atual dão conta que sua origem está relacionada à instalação de indústrias multinacionais automobilísticas, ao final dos anos 50. Desde então, a evolução em termos de seu uso como técnica de informação à sociedade e instrumento para formação de imagem das organizações perante esta mesma sociedade e como mercado de trabalho para os jornalistas fez com que atingisse um estágio que talvez seja único no mundo.

No Estado do Ceará, por exemplo, o Sindicato dos Jornalistas Profissionais informa (Fenaj, 1997, p. 60) que 60% dos jornalistas do Estado trabalham em assessoria de imprensa. Este percentual varia conforme o Estado, e mesmo que os dados possam não ser confiáveis, é possível acreditar que, no mínimo, 50% dos jornalistas brasileiros atuem em assessorias de algum tipo.
Apesar desta evolução, até o fim da década de 60, a hoje chamada assessoria de imprensa era um campo de atuação profissional pouco importante e que gerava certo desprezo pelos jornalistas. A atividade era exercida por pessoas de áreas diversas, geralmente ainda em gabinetes de relações públicas, uma profissão que tinha a atividade de administração do fluxo de informação entre organização e imprensa incluída em sua legislação profissional. [1]

Na época era natural jornalistas informarem que trabalhavam em relações públicas. Ao mesmo tempo, era comum atuarem em veículos de comunicação e acumular um ou mais empregos em órgãos públicos. A jornada de trabalho, neste caso, muitas vezes não era cumprida. Rossi (1986, p. 45) conta que muitas repartições públicas contratavam jornalistas com salários baixos e preferencialmente com atuação nas redações e, ainda, que cobrissem justamente aquela repartição. [2]

O objetivo era ganhar o comprometimento dos jornalistas para obter matérias favoráveis. Este panorama, entretanto, não significa a ausência de jornalistas cumprindo papel competente em assessorias. São vários os casos de profissionais de importante presença em divulgação ou relações públicas. A prematura regulamentação da atividade de relações públicas, ainda na década de 60, tornaria ainda mais natural a consolidação do termo assessoria de imprensa para indicar os departamentos nas empresas públicas e privadas que contavam com jornalistas.

No âmbito da agenda dos veículos de comunicação, o interesse pelas organizações públicas e privadas parece ter aumentado com a implantação do regime militar. A censura fizera com que os assuntos políticos fossem esvaziados. Como conseqüência, temas econômicos passaram a ser o escoadouro natural nas redações, embora houvesse um esforço muito grande para evitar “promover” o nome de empresas. Naquela época, ainda assim, uma empresa somente seria citada nos jornais se “figurasse no cadastro dos anunciantes do jornal” (Erbolato, 1988, p. 113).
A década de 1960 termina com poucos jornalistas atuando como assessores de imprensa [3] na forma como hoje conhecemos a atividade. Até então era comum o que Miguel Jorge (1992, p. 13) descreve: “gente sempre educada, fina, com imensa dedicação, mas completamente despreparada para a função. As empresas, muitas vezes, pegavam um bom funcionário administrativo, que tinha um ‘jeitinho’ para relações públicas e colocavam-no para tratar com a imprensa”.

O difícil relacionamento de órgãos governamentais com os jornalistas a partir de 1968, quando foi instalada a censura, ajudou a consolidar a imagem de que assessores de imprensa agiam como bloqueadores do fluxo de informação, como exigiam os novos donos do poder, processo similar ao que ocorreu mais fortemente com a área de relações públicas. Na maior parte do período em que o país viveu sob o regime militar, as assessorias de imprensa tinham como principal objetivo o controle da informação, com a produção em larga escala de releases e declarações, evitando-se o acesso da imprensa à organização [4].

Veio daí a fama da assessoria de imprensa ser porta-voz do autoritarismo ou dos grandes grupos econômicos. Do lado do governo, principalmente desde a Era Vargas, existia um sistema institucionalizado de cooptação de jornalistas que tornava fácil a confusão de papéis, fruto do dualismo de trabalhar para o governo como funcionário público e cobrir o governo como repórter.

Em determinado momento do Regime Militar, metade dos repórteres credenciados no Congresso eram funcionários da Câmara ou Senado (Quintão, 1993, p. 230). [5] Ao mesmo tempo, enquanto funcionário público, “nas repartições públicas o jornalista, em especial aquele que militava na imprensa, era um proscrito. Ninguém lhe confiava nada, o que, por outro lado, deixava-o livre também de suas obrigações de trabalho” (Quintão, 1993, p. 219).

No fim da década de 1970, com a aproximação do ocaso do regime militar, começa a acabar, também, a fase em que era mais importante ter bom trânsito junto às autoridades do que se preocupar com comunicação (Nori, 1990, p. 70).

O ressurgimento da democracia, da liberdade da imprensa e o prenúncio de maior exigência quanto aos direitos sociais e dos consumidores, faz as empresas perceberem a necessidade de se comunicar diretamente com a sociedade. Elas deixam o amadorismo e começam a buscar profissionais para estabelecer um bom relacionamento com a imprensa. E o momento que simboliza e, de certa maneira dá início a esta nova etapa, foi a greve dos jornalistas ocorrida em São Paulo, em 1979, que, mal-sucedida, gerou a demissão de vários jornalistas. [6]

Na busca de novas opções de trabalho encontraram aberto o mercado nas empresas privadas, que estavam à procura de profissionais capazes não apenas de encontrar trânsito para suas informações nas redações, mas também para elaborar produtos de comunicação empresarial como jornais, revistas e vídeos de qualidade profissional.

Campoi (1984, p. 113) afirma que a presença de profissionais dispensados da grande imprensa contribuiu para “maior profissionalização dessas atividades e melhor entrosamento entre essas empresas e os grandes jornais”. Também ressalta o fato do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado de São Paulo ter feito controle para impedir que a atividade não fosse exercida por pessoas fora da área profissional (na disputa pelo promissor mercado com os profissionais de relações públicas), o que possibilitou que a atividade obtivesse maior credibilidade, ao mesmo tempo que significou a extinção do já pouco uso do termo relações públicas para o jornalista que trabalhasse em divulgação.

Além de alternativa ao mercado cada vez mais restrito das redações, muitos jornalistas também passaram a optar pelas assessorias de imprensa devido às condições mais tranqüilas de trabalho, sem fechamentos, menor estresse, sem correrias, com horário fixo de trabalho. Outra vantagem passou a ser o salário, em geral, bem maior do que o oferecido nas redações. [7]

Com tudo isso, a partir da década de 1980, o mercado das assessorias passou a ser encarado como uma opção de emprego importante e natural para os profissionais de veículos de comunicação. Isso tudo faz com que as assessorias de imprensa não apenas comecem a se desenvolver de fato, como se consolidem “seja pela profissionalização que ocorre nas suas atividades, seja pela implantação de políticas de relacionamento com os veículos [...] ou ainda pela superação de algumas incompreensões que só persistem em setores pouco esclarecidos”, como notava Bueno (1989, p. 94).

Estas incompreensões tinham relação com a postura autoritária, praticamente de censura explícita, que caracterizou boa parte das assessorias de imprensa nas décadas de 1960 e 1970.
O interesse dos jornalistas por um novo mercado de trabalho, com as vantagens de ser mais tranqüilo e melhor remunerado coincidiu com a necessidade sentida pelas empresas de estimular e profissionalizar o relacionamento com a imprensa. E o processo poderia ser previsto.

Chaparro (1994, p. 14) diz que "a sociedade organizada tem necessidade vital de se manifestar. São empresas, escolas, igrejas, sindicatos, partidos políticos, grupos culturais, associações de todos os tipos, entidades e pessoas capazes de produzir fatos, atos, falas, bens, serviços e saberes que influenciam na atualidade". A imprensa foi identificada como um grande instrumento para informar e formar uma imagem positiva junto à sociedade e o jornalista como elo fundamental no processo.

O exemplo de algumas empresas, como a Rhodia, [8] mostrou que a postura de organização aberta à sociedade e o investimento em comunicação traziam retorno em visibilidade e poderiam ajudar na consecução dos objetivos empresariais. Na avaliação de Bueno (1985, p. 9), neste período, “a comunicação deixa de ser ‘perfumaria’, ganhando as entranhas da administração pública e privada, e extrapola os limites dos tradicionais ‘jornaizinhos’ internos para assumir o status de um complexo poderoso, intrinsecamente vinculado à chamada estratégia negocial”.

Ao mesmo tempo, nos veículos de comunicação, as assessorias de imprensa passaram gradativamente a serem consideradas fontes importantes de informações e apoio, inclusive porque existiam profissionais com larga experiência em jornalismo ali atuando.
Talvez o principal exemplo desta mudança esteja em 1984, com o trabalho do jornalista Antônio Britto, assessor de imprensa do primeiro presidente civil eleito (mesmo indiretamente) após o golpe militar de 1964. Durante a doença, que levaria o presidente eleito Tancredo Neves à morte antes de assumir, Antônio Britto fornecia informações do governo e facilitava a atuação e acesso dos jornalistas às fontes oficiais, “não como um favor, mas como uma obrigação política” (Rossi, 1986, p. 46).

O avanço da inserção de jornalistas na área de comunicação institucional a partir desse período foi tão grande que se tornou o principal campo de atuação do jornalista no Brasil. O Sindicato dos Jornalistas Profissionais do DF calculava, já em 1993, que metade dos 25 mil jornalistas brasileiros estavam “direta ou indiretamente relacionados com as assessorias, consultorias e planejamento de comunicação” (Sant’Anna, 1993, p. 2). E, ao contrário do que ocorria antes, quando atuavam em assessorias profissionais com experiência em redações, torna-se cada vez mais comum o jornalista sair da faculdade diretamente para uma assessoria de comunicação. [9]

Paralelamente à assessoria de imprensa, a produção de publicações empresariais (jornais, revistas, boletins editados por empresas não-jornalísticas) passou a ser outro grande campo de atuação dos jornalistas em empresas não-jornalísticas. Criadas no Brasil como instrumento de relações públicas a partir da experiência americana, eram utilizadas por grandes empresas sob o pretexto de divulgar as atividades da organização.

Na realidade, faziam o contraponto ao movimento operário e buscavam anular os efeitos dos veículos de divulgação dos empregados, que haviam surgido nas últimas décadas do século anterior e mostravam-se bastante eficientes em despertar a atenção dos empregados.

Os chamados house-organs [10] surgiam principalmente nos momentos de conflito entre patrões e empregados, mas passam a ser dirigidos ao público externo. Apesar disso eram feitos, na maior parte das vezes, de modo improvisado por funcionários de boa vontade, mas sem experiência no assunto. Tavares (1992) mostra que as publicações jornalísticas empresariais assumiram não apenas o papel informativo, mas a “função auxiliar para atingir objetivos mercadológicos e também de interação”. Isto passou a ocorrer mais claramente, nas grandes empresas, a partir do final da década de 1960.

Como na assessoria de imprensa, as transformações sociais, notadamente a abertura política e o surgimento de um forte movimento sindical, fazem com que as empresas necessitem estabelecer canais mais sofisticados com seus públicos, inclusive empregados. “O jornalismo empresarial tem de diminuir sua lentidão burocrática interna, aprender a ser mais veloz e transformar sua linguagem e artigos em material de genuíno interesse do público-alvo” (Luduvig, 1994, p. 29).

Assim, há investimento em profissionais e na qualidade dos produtos jornalísticos das empresas. Como conseqüência, na década de 1980 também se estabelece a profissionalização em larga escala dos produtos de comunicação empresarial a partir de modelos tradicionais da comunicação de massa (vídeos institucionais e educativos, TV e rádio internos, jornais murais, boletins, revistas).

Vídeo_Motivacional_O Amor

Análise_Disciplina


Disciplina

Falta-me disciplina, e sem ela não consigo realizar meus projetos. É possível desenvolver disciplina ou ela é um traço da personalidade da pessoa?”

Jean Michel ainda não tinha completado 20 anos, era um soldado do Exército francês no inverno de 1796, e foi em plena campanha de conquista da Áustria que ele viveu um momento que mudou seu modo de ver a vida. Tinha atravessado a noite fazendo vigia em um dos flancos do acampamento e sentia que o cansaço de suas pernas só não era mais desesperador que seus pés congelados, e que o peso do fuzil parecia ter-se multiplicado durante a noite. Felizmente logo seria substituído, e foi exatamente nisso que Jean Michel pensou quando percebeu um movimento bem atrás de si. Virou-se esperando o soldado que o renderia, mas a pessoa que ele viu fez com que o frio de seus pés passasse para seu coração, instantaneamente.

Napoleão Bonaparte em pessoa caminhava sozinho em sua direção com passos firmes. E o general fez-lhe perguntas que ele poderia esperar de um sargento, ou no máximo de um capitão, jamais do comandante supremo do poderoso Exército francês que estava mudando a fisionomia da Europa. Ele, até então, não sabia que Napoleão se contentava com poucas horas de sono e que, muito cedo, costumava caminhar pelo acampamento, às vezes surpreendendo seus oficiais.
Mas foi no fim da visita do chefe que Jean Michel – que agora tremia de emoção mais que de frio –, teve um momento de coragem e atreveuse a dirigir a palavra a seu comandante supremo:
– Meu general, posso lhe fazer uma pergunta?

Napoleão, um pouco surpreso, assentiu com a cabeça
– Desculpe minha insolência, mas tenho necessidade de saber uma coisa: que qualidade eu preciso desenvolver para me transformar em um grande general algum dia?
O comandante tardou um instante para assimilar a pergunta, depois sorriu levemente e então disse:

– Se você me pede para que eu indique apenas uma qualidade, aquela que poderá algum dia transformá-lo, não só em um grande general, mas em um grande homem, então eu vou lhe dizer, meu jovem. Você precisa desenvolver aquela a partir da qual todas as outras virtudes virão: você precisa ser disciplinado. Só assim você se valerá bem do tempo, nosso bem mais precioso. Quanto a mim, pode ser que, no futuro, eu perca uma batalha, mas jamais perderei um minuto.
Uma (boa) qualidade
Napoleão Bonaparte acabou sendo derrotado pela sua enorme ambição, mas seu legado de estrategista militar e de homem determinado ainda permanece no imaginário universal. A disciplina era uma de suas forças, e ele era o primeiro a admitir isso, além de procurar incutir essa qualidade em todos os que ele liderava. Acreditava, portanto, que disciplina é algo que se desenvolve.
Hoje, a psicologia dá razão ao corso. Na prática, disciplina é considerada uma qualidade de comportamento, portanto, algo que pode ser modificado a partir da decisão e da persistência firme de cada um de nós.

De acordo com o conceito clássico, disciplina é um regime de ordem. Em outras palavras, é um sistema onde os acontecimentos se processam como previamente determinado. Quando a disciplina está presente, aquilo que foi proposto será executado, não há dúvidas quanto a isso.
As famosas resoluções de ano novo, por exemplo, costumam frustrar seus idealizadores por dois motivos principais. O primeiro é que elas não são, de fato, colocadas na lista de prioridades. Ficam no campo das probabilidades, e aí, para serem realizadas, dependem de que não surjam, ao longo do ano que se inicia, outras necessidades com maior premência. Se “emagrecer” não for prioridade, “trabalhar” será. Como não podemos não trabalhar, a resolução de emagrecer fica em segundo plano, enquanto a pessoa não perceber que pode ter mais de uma prioridade, desde que saiba organizar seu tempo. E isso nos remete ao segundo grande motivo das frustrações.

O segundo motivo é a indisciplina. Essa é a grande mãe do fracasso. O medo é o pai. E o fracasso tem também uma madrinha: a ignorância, em seu sentido amplo. E um padrinho: o planejamento mal feito. Mas, acredite, a indisciplina é a causa mais cruel, pois não perdoa nunca. Coragem, conhecimento e planejamento são importantíssimos para o sucesso de uma empreitada, mas ficam impotentes sem a companhia da disciplina.
Aristóteles, em seu livro Ética a Nicômaco, insistia na disciplina como uma qualidade da alma; o poder que permite ao homem diferenciar-se dos animais, pois significa a vitória da razão, a única possibilidade de uma pessoa realizar seus sonhos. Sem a disciplina e a determinação, qualquer sonho não passará de devaneio. O filósofo dizia que a “virtude moral é resultado do hábito”. Somos o que repetidamente fazemos, forjamos o caráter nas atividades diárias, e estas construirão nosso destino.
Os dois caminhos
Mas cuidado. O regime de ordem citado acima pode ser de dois tipos: imposto ou livremente consentido. Se for imposto, só vai funcionar mediante controle permanente, como acontece com o professor que impõe disciplina na sala de aula e é temido pelos alunos; ou o pai que não admite desobediência de seus filhos, muito menos discussão sobre suas ordens e determinações. Tal pai conquista o respeito pela força, mas corre o risco de perder o amor de seus filhos. A disciplina imposta só funciona por curtos espaços de tempo e é útil em situações de crise, perigo, dificuldade ou urgência. Não serve para tarefas em longo prazo, como é o caso dos projetos pessoais de vida.

Já o regime de ordem que é livremente consentido tem outra força, outro poder. Sustenta-se no tempo e não depende de controle, no máximo de um reforço. Resoluções pessoais só podem funcionar assim. O que você decide para sua vida não pode depender de outro, pois a decisão foi sua, e não do outro. A participação de outros na execução de suas resoluções pode, isso sim, funcionar como uma parceria, e as parcerias são boas porque catalisam os processos. Encontrar um companheiro para praticar esporte, ou solicitar à sua mulher que lhe pergunte, de tempos em tempos, como está indo aquele projeto, são reforços estratégicos muito úteis. Mas o controle continua sendo seu, pois nada lhe foi imposto no sonho – nem está sendo agora, na execução.
Você decide, e deve fazê-lo por livre consenso estabelecido entre seus sonhos e suas potencialidades. Tudo aconteceu dentro de sua cabeça, sem imposição, mando ou determinação de quem quer que seja. Quando é você que decide, está exercendo seu livre-arbítrio. Quando realiza com disciplina, está fazendo valer sua vontade. O disciplinado sem livre-arbítrio é um escravo competente. Um livre-pensador indisciplinado é um boêmio inconseqüente.
Aliados e inimigos

A disciplina, é necessário reconhecer, tem lá seus inimigos. Vejo dois: a indolência e a dúvida. A indolência é o diabinho que sussurra em nosso ouvido coisas como: “Deixa para depois!”; “Fique mais um pouquinho na cama, o que é que há de mal nisso?”; “Não se preocupe, se você ficar bem quietinho, a vontade de trabalhar passa!”; “Ninguém faz, por que logo você deveria fazer?” E por aí vai. O repertório de convencimento do capetinha da indolência é quase infinito.
Cuidado com ele!
Quanto à dúvida, bem, essa tem causas mais profundas, pertence ao misterioso mundo do autoconhecimento. Cuidado, pois resoluções pessoais não podem dar espaço para as dúvidas. Se você pretende plantar um jardim, não pode duvidar de seu apreço pelas flores. Se uma resolução é fraca, será dominada pela dúvida, e esta vem acompanhada da acomodação, do desânimo e da desesperança. Eta turminha da pesada! Mas não se esqueça de que esses três só entram na festa se forem convidados pela dúvida. Portanto, não crie, em sua cabeça, projetos em que você não acredita, objetivos definidos por outros, sonhos mal sonhados. Todos eles abrem espaço para a dúvida, e esta arruma a cama da indisciplina, em que ela dormirá o sono letárgico de uma vida sem sentido.

A idéia da disciplina carrega consigo um arsenal de meios que poderiam ser entendidos como outras resoluções. Mas não, elas são um só conjunto, uma só decisão, compartimentada, mas única. E a noção da disciplina é a mais abrangente – a ave sob cujas asas se acomodam os componentes da esperança com base, do sonho com certeza, do amor compartilhado.

Em latim, disciplina significa ensino, por isso usamos essa palavra também para designar áreas do conhecimento. Matemática, história, biologia são exemplos de disciplinas escolares. Há, portanto, uma conexão entre a disciplina e o aprendizado. Aliás, a palavra disciplina tem a mesma origem da palavra discípulo. O mestre disciplina um jovem para que ele aprenda, se desenvolva, torne-se autônomo e produtivo. O jovem que o mestre disciplina é, portanto, seu discípulo.

No sentido pessoal, a disciplina aumenta nossa capacidade de aprender e, a partir disso, realizar. Quem se disciplina torna-se, ao mesmo tempo, mestre e discípulo. Aprendem, produzem, criam, alcançam os resultados com que sonham. E, o mais importante, são mais livres. A disciplina não aprisiona, liberta você da pressão externa e do sofrimento que vem dos sonhos não realizados, das frustrações autoprovocadas, da miséria da desesperança. Aliás, Renato Russo nos disse que “disciplina é liberdade”. Pois é. Do filósofo grego ao imperador francês, encontramos a idéia de que uma mente livre é uma mente disciplinada. Porque as pessoas disciplinadas são mestras de si mesmas.

Fonte: Revista Simples - Eugenio Mussak é educador e escritor. Neste espaço, faz reflexões a partir de inquietações levantadas pelos leitores.

Análise_Tempo


Tudo ao mesmo tempo, Agora

A sensação de que as coisas passam muito rápido é cada vez mais real. A velocidade gera um bocado de ansiedade. Mas é possível tirar proveito destes tempos de correria

Paulo César Farias é um sujeito pacato, sereno. Diferentemente do homônimo alagoano aquele outro, o tesoureiro de Fernando Collor e protagonista de um dos maiores escândalos políticos do Brasil , este nosso Paulo César é Paulinho da Viola, um cara avesso a correrias. Seu negócio é cantar quando solta sua voz doce, tem o dom de acalmar até os corações mais inquietos. Me perdoe a pressa. É a alma dos nossos negócios, diz Sinal Fechado, um de seus clássicos. A canção é o hino dos desencontros, da vida movimentada, dos sinais fechados que nos forçam a parar por, no máximo, três minutos. Da pressa que nos atordoa e nos obriga a fazer tudo rápido, para ontem. O sinal... Eu procuro você...Vai abrir!!! Vai abrir!!!

Quantas vezes você teve encontros parecidos com esse? E nem precisa ser no sinal pode ser no elevador, no corredor, entre um café e outro. Não dá tempo de falar muito. Não dá tempo de telefonar para aquele amigo que faz aniversário. Não dá tempo nem de almoçar, às vezes. E assim vamos moldando a vida. Já que o tempo não pára, é preciso fazer muitas coisas e no mais breve espaço de tempo. Como ninguém consegue, lá vem a ansiedade. Até o pacato Paulinho, quem diria, já foi parar no hospital com arritmia cardíaca numa crise de ansiedade. Eu estava sem dormir direito. Dormi só duas horas e acordei cedo porque tinha um compromisso. No final do dia, estranhei o fato de não estar cansado. Minha respiração começou a ficar meio ofegante, estava sentindo uma enorme ansiedade, contou, na época.

Quem faz tudo rápido pode até parecer mais eficiente e esperto. Mas não é. Agilidade em excesso traz danos para a saúde física, mental e social. Mas o que fazer com a vida que nos cobra cada vez mais atividades e o tempo que parece escapulir pelos dedos? É o que você vai descobrir a partir de agora.

Cada vez mais rápido



Parece que o Natal foi ontem e já estamos caminhando para o final de ano de novo. Essa frase, campeã das conversas vapt-vupt de elevador (ou de sinais fechados), existe desde que o mundo é mundo. A impressão de que o tempo voa persiste desde que o homem começou a pensar no sentido da vida. No início da era cristã, o filósofo Sêneca (7 a.C.-65 d.C.), na obra Sobre a Brevidade da Vida, dizia que finalmente, constrangidos pela fatalidade, sentimos que ela [a vida] já passou por nós sem que tivéssemos percebido. Foge o irrecuperável tempo, dizia o poeta latino Virgílio (70-19 a.C.).

Sim, o tempo voa. A má notícia, caro leitor, é que tudo parece estar cada vez mais rápido mesmo. Há pouco mais de dez anos, a dupla de pesquisadores James Tien e James Burnes, do Instituto Politécnico Rensselaer (Nova York), provaram que percebemos hoje o tempo passar muito mais depressa do que no passado. Segundo eles, essa variação de percepção tem a ver principalmente com o crescimento das novas tecnologias, sobretudo com o chamado tempo real de transmissão de informações pela internet. Isso quer dizer que cabem muito mais acontecimentos dentro do mesmo espaço de tempo, o que aumenta a sensação de velocidade, afirma Tereza Mendonça, psicanalista do Instituto de Estudos da Complexidade do Rio de Janeiro.

O lado bom é que é simplesmente sensacional ter acesso a informações com mais agilidade. Isso ajuda a impulsionar a vida e toda essa tecnologia foi criada para nos ajudar. Só precisamos aprender a usá-la com inteligência e não como uma fonte de angústia. Caso contrário, nosso cérebro entra em curto-circuito. Imagine se na época de sua avó ela conseguia, no mesmo instante, saber de notícias online, falar com alguém pelo celular, acessar a agenda eletrônica, ver e-mails, responder chamadas no messenger... Mesmo podendo fazer tanta coisa ao mesmo tempo, é bom lembrar que o dia continua tendo 24 horas, a hora 60 minutos e assim por diante. Está certo que essa contagem foi criada pelo homem (a natureza não tem ponteiros de relógio, lembra?), mas, nesse quesito, nada mudou nos dias atuais. O que aconteceu é que acumulamos funções. O que fazer, então? A psicanalista Tereza Mendonça apropria- se de um conceito da biologia para dar uma idéia de como melhorar essa relação sem precisar fugir para o meio do mato. Temos que colocar uma membrana seletiva imaginária entre nós e a vida. Já que muita coisa acontece ao mesmo tempo, o jeito é filtrar através dessa membrana, que, assim como uma membrana celular, só deixa passar aquilo que é bom para nós, o que nos favorece, diz. Desse jeito fica possível saborear o tempo de forma criativa, como uma experiência, e não como algo que nos escapa. O tempo fica algo maleável, que pode se estender.

Precisamos aprender a usar esse filtro por basicamente duas razões: primeiro porque, na vontade irreprimível de conseguir fazer tudo rapidinho, o monstro da ansiedade vem para nos assombrar e causar os mais diversos incômodos. Segundo porque, definitivamente, não dá para fazer (direito) mais de uma coisa ao mesmo tempo. Nossa atenção pode, sim, ser dividida. Mas isso não quer dizer que sejamos capazes de nos aprofundar. Vamos ver, a partir daqui, de que forma cada uma dessas razões mexem na nossa vida cotidiana.

A ansiedade

Para começo de conversa, ansiedade não é nada ruim. Não é doença, mas um estado emocional absolutamente normal do ser humano, assim como felicidade, paixão, dor, raiva. Precisamos de certa dose de ansiedade, inclusive, para nos mantermos vivos. Esse sentimento está ligado ao nosso instinto de proteção e sempre é ativado em nosso organismo quando nos vemos em uma situação de perigo. É um instrumento de alerta e reação. Ou seja: uma pequena dose de ansiedade antes de uma prova, de uma competição ou até de uma entrevista de emprego pode fazer bem.

O problema é o exagero. Tanto que, atualmente, pelo menos 25% da população mundial já foi acometida por algum tipo de transtorno ansioso na vida. Transtorno quer dizer síndrome do pânico, as mais variadas fobias e outros males que imobilizam a vida da pessoa. Crises pontuais como uma taquicardia porque o trânsito não anda e você precisa chegar logo nunca foram contabilizadas oficialmente, mas dá para imaginar o resultado. Uma pesquisa feita em 2005 com 820 pessoas de Porto Alegre e São Paulo pela Isma-Brasil (International Stress Management Association) mostrou que 83% dos participantes afirmaram ter problemas de ansiedade.
Mas o que acontece com um ansioso? Ele sofre e sofre muito. Ninguém morre de ansiedade. Mas pode padecer de sensações horríveis, tais como tremores, suador, opressão e dor no peito, boca seca, palpitações, tonturas, entre outros sintomas muito incômodos que podem levar a pessoa ao hospital, como aconteceu com Paulinho da Viola, afirma Tito Paes de Barros, psiquiatra do Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP, autor do livro Sem Medo de Ter Medo. A ansiedade vem porque queremos chegar logo no futuro, rápido, saber o que vai acontecer daqui a pouco. É como querer adiar a vida o tempo inteiro. Fazemos mil coisas para aproveitar o tempo e preparar o terreno para o futuro, um futuro que não chega nunca, afirma Andrea Vianna, psicóloga do Amban (Ambulatório de Ansiedade do Hospital das Clínicas de São Paulo).

E tem mais: de que adianta viver correndo em função do futuro, sem aproveitar o presente, se ninguém sabe a hora da morte? Pois essa idéia de falta de controle é outro fator que acarreta ainda mais e mais ansiedade. Segundo Andrea, nessas horas de crise ansiosa, um bom exercício é parar um minuto e prestar atenção na respiração. Se ela estiver curta demais e centrada apenas no tórax, procure respirar pelo abdomen, puxando e soltando o ar em três tempos, como se tivesse uma bexiga cheia e vazia na sua barriga. É um primeiro passo para retomar o controle do próprio corpo.

Vida aos pedaços

A segunda conseqüência preocupante da ansiedade é que, ao fazer tudo rápido, não dá tempo de nos aprofundarmos em nada. Só escancaramos ainda mais nossa sensação de urgência. Fica tudo na superfície, como se provássemos as coisas (e pessoas) aos pedacinhos. Já existe até um termo para isso: snack culture, ou cultura aos pedaços, em inglês. Cunhado pela revista americana Wired, o termo diz que vivemos uma época de entretenimento instantâneo, com produtos culturais feitos para serem consumidos rapidamente para que outros sejam logo produzidos. Não é à toa que já existem filmes de um minuto, livros para ler no intervalo da novela e sites com apenas trechos de músicas. Tanta superficialidade não deixa tempo para reflexão sobre o que se consome o lado bom da história é que nunca houve tanto acesso à cultura como atualmente.
O problema é que a febre snack não atinge só a cultura, mas a vida como um todo inclusive a vida afetiva. O sociólogo polonês Zygmunt Baumann chama esse fenômeno de fluidez da existência contemporânea. A vida numa sociedade líquido-moderna não pode ficar parada. Deve modernizarse ou então perece. É preciso correr. Ligar-se ligeiramente é uma ordem. Não importa o que aconteça, propriedade, situações e pessoas continuarão deslizando e desaparecendo numa velocidade surpreendente, afirma em seu mais recente livro, Vida Líquida.
É só pensar um pouco para reparar no quanto nossa cultura associa viver mais depressa com felicidade e inteligência. Um sujeito rápido é logo identificado como inteligente o lento já é taxado de burro. Isso é uma tremenda balela, mas é assim que temos enxergado o mundo. Prova disso é a pergunta de Albert Einsten a um aluno: Por favor, você pode explicar este problema devagar porque não entendo as coisas depressa?

Se você chegou até aqui nesta reportagem é porque dedicou um tempinho do seu dia para uma reflexão. Então responda: que diferença faz a velocidade com que você responde a uma pergunta, desde que a resposta seja correta? A não ser que esteja se preparando para uma profissão como salva-vidas ou motorista de ambulância, você acha mesmo importante dar valor a essa mesma velocidade que causa ansiedade e superficialidade? Forçar o vinho a envelhecer depressa, as árvores a crescerem rápido, apressar um chute na bola, forçar o amor a vir mais cedo, o amanhã a chegar hoje. Gostamos de andar rápido e vencer a corrida. O problema é que perdemos a grande vitória da desaceleração a ser conquistada, diz o psiquiatra americano Edward M. Hallowell. Se a idéia é aproveitar o tempo, sossegue. Você vai viver mais do que seus avós a expectativa de vida do brasileiro cresceu mais de 8 anos nos últimos 23 anos. Se o homem vive mais tempo, o tempo não precisa lhe faltar. Como diz Paulinho da Viola, coisas do mundo, minha nega.

Para saber mais:

Livros:

Sem Medo de Ter Medo, Tito Paes de Barros Neto, Casa do Psicólogo
Sem Tempo Pra Nada, Edward M. Hallowell, Nova Fronteira
Vida Líquida, Zygmunt Baumann, Zahar

Fonte: Texto de Mariana Sgarioni_Vida Simples