domingo, 11 de outubro de 2009

Mídia_Empreendedorismo


Pense bem ao virar patrão

Deixar de ser empregado para ser empregador. Não ter que obedecer mais ordens de chefes e ser dono do próprio negócio. Quem ao menos uma vez não pensou nesta possibilidade, normalmente associada ao desejo de liberdade, flexibilidade e maior ganho financeiro? Você decidiu que chegou a hora de empreender, mas ainda não sabe por onde começar. Qual o melhor caminho: comprar ou montar o próprio negócio?

A decisão deve se basear em pesquisa de mercado, no tipo do empreendimento e em planejamento. "Em negócios não se deve decidir nada com emoção. É preciso estudar muito e planejar. Normalmente os negócios não dão errado porque as pessoas são incompetentes, mas porque o planejamento foi errado", explica o consultor Emerson Castello Branco Simenes.

Quem tem a intenção de adquirir uma empresa já existente, deve verificar toda a documentação e se informar sobre a saúde financeira da organização, para ter a certeza de estar adquirindo um empreendimento, aoinvés de um pacote de débitos e processos. Um cuidado adicional necessário é andar pela vizinhança para identificar qual é imagem da empresa. Se for ruim, é preciso ter consciência de que vai demandar tempo até que as pessoas mudem de opinião.

"Apenas colocar uma placa do tipo: 'sob nova administração', não adianta. A memória do cliente é maior para algo considerado negativo. Neste caso, a possibilidade de comprar apenas o ponto e não o CNPJ deve ser avaliada", aconselha Conceição Moraes, gestora de Orientação Empresarial do Sebrae em Pernambuco.

A especialista também coloca no orçamento desta compra um capital para reforma, principalmente se a empresa for de prestação de serviços ou comércio - com relacionamento direto com o público. "Não dá para fazer um quebra galho com a área onde o cliente circula. É possível até aproveitar maquinário, a área de produção, o estoque, mas na vitrine e nas áreas internas com circulação de clientes, normalmente é necessário uma nova imagem e uma placa só não resolve", diz.

Dívidas - A experiência da empresária Aglany Almeida reflete um pouco da dor de cabeça que pode ser evitada. Dona de um salão de beleza no bairro de Boa Viagem, Aglany teve uma experiência anterior de sociedade que deixou um prejuízo de pelo menos R$ 20 mil. "Comprei 50% de participação em outro salão e só depois do negócio fechado, descobri que todos os móveis e equipamentos do salão estavam bloqueados por conta de uma dívida trabalhista. Na verdade, eu tinha comprado uma dívida", lembra.

Depois de muita negociação, ela conseguiu desfazer a sociedade e montar o próprio salão de beleza: o Metamorfose Cabeleireiros. "Como não tinha mais o capital de antes, fiz um financiamento no Banco do Nordeste. O início foi muito difícil, principalmente a escolha dos profissionais qualificados. Mas agora estou vivendo um momento mais calmo e mais estruturado".

Para tocar a própria empresa, Aglany foi em busca de orientação no Sebrae - principalmente para as áreas de finanças e administrativa - e diz que o retorno financeiro ainda não é o que ela planejou no início. Num mercado exigente e com tantas opções de salões, ela aprendeu rápido que o patrão dela é o cliente. Por isso, dedica-se de segunda a sábado ao trabalho.

Dicas para empreender

- Escolher um segmento com o qual tenha afinidade e que se encaixe no seu perfil de rotina e com rendimento compatível com o que você deseja

- Pesquisar o mercado onde quer se inserir (demanda, custos, concorrência, produção, público-alvo) e avaliar questões práticas para a instalação (localização, mão de obra especializada, licenças e impostos)

Se for montar um negócio:

- Avaliar se é uma novidade no mercado e se há demanda para este produto/serviço. Não adianta você achar que venderá algo maravilhoso, se não existir uma demanda para ele

- Antes de escolher o ponto onde vai se instalar, percorra um raio de 500 metros na redondeza para identificar concorrentes e potenciais clientes

- Ter capital equivalente 100% do valor investido no empreendimento, para suportar o período em que a empresa não dará lucro. Este tempo depende do ramo, mas pode chegar a até oito meses, em alguns casos

Se escolher adquirir uma empresa já existente

- Antes de fechar contrato, checar a situação financeira do empreendimento.Verifique se não está comprando dívidas, em vez de uma empresa. Às vezes é melhor comprar apenas o ponto e não o empreendimento

- Colocar somente uma placa "Nova administração" não vai adiantar, se a imagem do estabelecimento não for boa. Demanda tempo para a clientela perceber o novo direcionamento. Por isso, reserve dinheiro para reforma e divulgação

- Tenha capital suficiente igual a pelo menos 50% do investimento feito para comprar a empresa. Não é porque o empreendimento já existe que o lucro virá facilmente e você deve estar preparado para eventualidades

Em todos os casos, lembre

- Ser empresário não significa ter "vida boa", no sentido de não trabalhar tanto. Normalmente é contrário: o dono é o primeiro a chegar e o último a sair e não tira férias com tanta frequência quanto gostaria

- Superdimensione um pouco os gastos iniciais do empreendimento. Se houver imprevistos, você não será pego desprevinido

- Não faça nada levado apenas pela emoção. Negócios e emoção normalmente não combinam. Planejamento é o lema que deve ser adotado

Importante ter reserva financeira


Ter uma reserva financeira que permita ao dono se manter durante a fase de consolidação do negócio é um ponto importante para quem deseja empreender. Emerson Castello Branco Simenes, consultor organizacional e financeiro, aconselha ter capital equivalente a 50% do investimento, para quem compra um negócio em funcionamento, e a 100% dos recursos aplicados na empresa que está começando.

"As retiradas do pro-labore não poderão ser realizadas por pelo menos seis meses - tempo médio de consolidação e para começar a dar lucro, dependendo da área. Mas o empresário tem que pagar as contas pessoais. Se não tiver uma reserva, não vai ter fôlego para aguentar este prazo e corre o risco de desistir antes do prazo mínimo", diz.

Quem está montando um empreendimento totalmente novo deve também pesquisar num raio de 500 metros de onde pretende se instalar se existem concorrentes e o que oferecem. "Se não vai montar nada totalmente inovador, você tem que se propor a ser o melhor para conquistar os clientes", sugere o consultor.

Mesmo sem entender de teorias de administração e marketing, é isso que o empreendedor Aracê Prudente tem feito nos últimos 20 anos. Para quem começou como vendedor de coco na praia de Boa Viagem, a concorrência sempre foi muita e acirrada. Por isso, a inovação e o tino para o comércio foram o diferencial.

"Comecei a apostar na diversificação dos produtos e fui o primeiro a vender açaí na praia. Posso dizer que tenho uma microempresa, com toda a infraestrutura necessária para vender e atender bem", conta Prudente.

O Point do Açaí, localizado perto do Hotel Recife Palace, na Avenida Boa Viagem, funciona 24 horas, tem 10 colaboradores e uma espécie de escritório/estoque, perto da praia, de onde Aracê Prudente administra o quiosque e planeja como melhorar o serviço. "Todo o nosso pessoal é treinado em segurança de alimentos, tem curso de atendimento ao cliente e inglês instrumental em cursos foram oferecidos pela prefeitura. E há duas semanas posso dizer que somos o primeiro quiosque informatizado da praia deBoa Viagem", comemora o microempresário.

Aracê é o que o Emerson Simenes chama de empreendedor nato. "O bom vendedor não se ensina, é como jogador de futebol, que pode se aprimorar, mas já nasce talentoso. Mas mesmo neste caso é preciso estudar e planejar, para que boas ideias não sejam perdidas por falta de know how. É preciso estudar e evitar agir com emoção", conclui.

Fonte: Diario de Pernambuco

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